30.6.15

Carlos Drummond de Andrade: "Conclusão"




Conclusão

Os impactos de amor não são poesia
(tentaram ser: aspiração noturna).
A memória infantil e o outono pobre
vazam no verso de nossa urna diurna.

Que é poesia, o belo? Não é poesia,
e o que não é poesia não tem fala.
Nem o mistério em si nem velhos nomes
poesia são: coxa, fúria, cabala.

Então, desanimamos. Adeus, tudo!
A mala pronta, o corpo desprendido,
resta a alegria de estar só, e mudo.

De que se formam nossos poemas? Onde?
Que sonho envenenado lhes responde,
se o poeta é um ressentido, e o mais são nuvens?



ANDRADE, Carlos Drummond de. "Conclusão" In:_____. "Fazendeiro do ar". In:_____. Poesia 1930-62: de 'Alguma poesia' a 'Lição de coisas'. Edição crítica preparada por Júlio Castañon Guimarães. São Paulo: Cosac Naify, 2012. 

4 comentários:

  1. Muito bom. Surpreendente. Não me lembro de tê-lo lido e agora o leio inteiramente. Já devo tê-lo lido e não tinha me atentado dele.

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  2. Olá!

    Parabéns pelo blogue.

    Sou seguidor!

    Se puder, visite:
    www.giovanipasini.com

    Abraço

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  3. Cicero,

    Belíssimo poema de Drummond! Grato por compartilhá-lo!



    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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  4. Maravilhoso! viajei legal agora! Me falou muitas coisas!

    Estou repostando uma postagem sua, prezado Antônio!

    Se puder escute:

    https://soundcloud.com/leo-victor-4/arte-poetica-antonio-brasileiro

    abraço!

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