3.6.14

Zizi Possi canta "Alma caiada", de Marina Lima e Antonio Cicero




Muita gente me pergunta qual foi a primeira letra de canção que fiz. Bem, era um poema, guardado na gaveta, que Marina musicou. Chama-se "Alma caiada". Maria Bethania chegou a gravá-la, mas ela foi censurada pela ditadura. Depois, Zizi Possi a gravou lindamente. Ei-la:


ALMA CAIADA

Aprendi desde criança
que é melhor me calar
e dançar conforme a dança
do que jamais ousar

mas às vezes pressinto
que não me enquadro na lei:
minto sobre o que sinto
e esqueço tudo o que sei.

Só comigo ouso lutar:
sem me poder vencer,
tento afogar no mar
o fogo em que quero arder.

De dia caio minh’alma.
Só à noite caio em mim:
por isso me falta calma
e vivo inquieto assim.






6 comentários:

  1. não conhecia essa gravação. adorei!
    segue meu último texto, esquisito como os outros.
    abrçs!



    tardes bárbaras

    enquanto víamos Netflix
    rodrigo matou o namorado
    da mãe a pauladas
    roberto serrou o corpo do zelador
    richard queimou crianças vivas
    após roubar um x-box - e ainda teve o josé:
    após atirar num pai-de-família
    chutou o bebê que estava no colo

    há teorias que nos mandam perdoá-los
    outras que pretendem consertá-los
    e há os que neles se inspiram e que desejam
    matá-los.

    ResponderExcluir
  2. Cicero,

    Demais! Demais! Viva!



    Abraço forte,
    Adriano Nunes


    ResponderExcluir
  3. Linda essa canção. Poesia & música: pão e trigo. Cadeira e mesa.
    Abraços
    Arsenio

    ResponderExcluir
  4. Antonio Cícero,

    Gosto muito do seu blog, obrigada pela sua poesia.

    Quando ouvi esta canção pela primeira vez, há cerca de dois anos, antes de conhecer o seu blog, fiquei encantada. Não sabia que era um poema seu, o primeiro musicado por Marina!

    A voz de Zizi Possi, a sua interpretação, é linda! E caia o poema sob medida, na doçura do prazer e na agonia da batalha da alma caiada de dia e caída na noite.

    O seu poema me remete à vã luta contra os desejos noturnos de Konstantinos Kavávis, retratados em "Jura", que transcrevo abaixo. Não sei se lhe parecerá pertinente esta alusão.

    Um abraço,

    Cecília MacDowell Santos

    Jura

    A cada pouco jura começar vida nova. Mas quando a noite vem com seus conselhos, seus compromissos, com suas rpomessas; mas quando a noite vem com sua força (o corpo quer e pede), ele de novo sai, perdido, atrás da mesma alegria fatal.

    Kaváfis, Konstantinos. Poemas. Trad. José Paulo Paes. 2a. edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 130.

    ResponderExcluir
  5. Cecilia,

    Muito boa a lembrança desse Kaváfis em relação a 'Alma caiada'. Obrigado!

    Abraço

    ResponderExcluir