5.4.13

Jaime Gil de Biedma: "La calle Pandrossou" / " A rua Pandrossou: trad. de José Bento






La calle Pandrossou


Bienamadas imágenes de Atenas

En el barrio de Plaka,
junto a Monastiraki,
una calle vulgar con muchas tiendas.

Si alguno que me quiere
alguna vez va a Grecia
y pasa por allí, sobre todo en verano,
que me encomiende a ella.

Era un lunes de agosto
después de un año atroz, recién llegado.
Me acuerdo que de pronto amé la vida,
porque la calle olía
a cocina y a cuero de zapatos.





A rua Pandrossou

Bem-amadas imagens de Atenas


No bairro de Plaka
perto de Monastiraki,
uma rua vulgar com muitas lojas.

Se alguém que de mim gosta
um dia for à Grécia
e passar por ali, sobretudo no verão,
dê-lhe saudades minhas.

Era uma segunda-feira de agosto
depois de um ano atroz, recém chegado.
Lembro-me que de repente amei a vida,
porque a rua cheirava
a cozinha e a couro de sapatos.




BIEDMA, Jaime Gil de. Antologia poética. selecção e tradução de José Bento. Lisboa: Cotovia, 2003.

5 comentários:

  1. Cicero,


    que poeta maravilhoso é Jaime Gil de Biedma! Lindo poema! Grato por compartilhar! Deixo aqui um poema que traduzi dele:

    "Resolução" (Tradução de Adriano Nunes)

    Resolução de ser feliz
    sobre todas as coisas, contra todos
    e contra mim, de novo
    - sobre todas as coisas, ser feliz -
    volto a tomar essa resolução.

    Porém mais que o propósito da emenda
    perdura a dor do coração.

    Jaime Gil de Biedma: "Resolución"

    Resolución de ser feliz
    por encima de todo, contra todos
    y contra mí, de nuevo
    — por encima de todo, ser feliz –
    vuelvo a tomar esa resolución.

    Pero más que el propósito de enmienda
    dura el dolor del corazón.

    In: BIEDMA, Jaime Gil de. "Poemas Póstumos". "Antología Personal". Madri: Visor Libros, página 42.



    E também o link para quem quiser imprimir a "Antología Personal" dele: http://www.iesmigueldecervantes.com/publica/biblioteca/antologia_personal_jaime_gil_de_biedma.pdf


    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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  2. Adriano,

    obrigado pela correção, pela tradução, e pela dica.

    Abraço

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  3. Ano 'atroz', na tradução...

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  4. Obrigado, Anônimo. Eu não tinha visto.

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  5. A literatura portuguesa no século passado foi riquíssima com uma gama enorme de grandes autores...este também gosto muito e é o meu hino:

    Cântico Negro


    "Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
    Estendendo-me os braços, e seguros
    De que seria bom que eu os ouvisse
    Quando me dizem: "vem por aqui!"
    Eu olho-os com olhos lassos,
    (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
    E cruzo os braços,
    E nunca vou por ali...

    A minha glória é esta:
    Criar desumanidade!
    Não acompanhar ninguém.
    - Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
    Com que rasguei o ventre à minha mãe

    Não, não vou por aí! Só vou por onde
    Me levam meus próprios passos...

    Se ao que busco saber nenhum de vós responde
    Por que me repetis: "vem por aqui!"?

    Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
    Redemoinhar aos ventos,
    Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
    A ir por aí...

    Se vim ao mundo, foi
    Só para desflorar florestas virgens,
    E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
    O mais que faço não vale nada.

    Como, pois sereis vós
    Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
    Para eu derrubar os meus obstáculos?...
    Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
    E vós amais o que é fácil!
    Eu amo o Longe e a Miragem,
    Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

    Ide! Tendes estradas,
    Tendes jardins, tendes canteiros,
    Tendes pátria, tendes tectos,
    E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
    Eu tenho a minha Loucura !
    Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
    E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

    Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
    Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
    Mas eu, que nunca principio nem acabo,
    Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

    Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
    Ninguém me peça definições!
    Ninguém me diga: "vem por aqui"!
    A minha vida é um vendaval que se soltou.
    É uma onda que se alevantou.
    É um átomo a mais que se animou...
    Não sei por onde vou,
    Não sei para onde vou
    - Sei que não vou por aí!
    José Régio in Poemas de Deus e o Diabo

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