25.9.12

Francisco Sá de Miranda: "Ao Amor e à Fortuna"






Ao Amor e à Fortuna


Amor e Fortuna são
dous deuses que os antigos
ambos os pintaram cegos;
ambos não seguem rezão;
ambos aos mores amigos
dão mores desassossegos;
ambos são sem piedade;
ambos não lhes tomais tino
do querer ou não querer;
ambos não falam verdade:
Amor é cego minino,
Fortuna é cega mulher.        




SÁ de MIRANDA, Francisco. Obras completas. Lisboa: Sá da Costa, 1976.

4 comentários:

  1. Cicero,

    que lindo! Bravo!

    Meu novo poema, para você:

    ‎"um eu qualquer" - Para Antonio Cicero

    dentro da gente
    há muitos, tantos,
    que o pensamento
    pode sequer
    bem calcular.

    o que se sente,
    quem sente? canto-os
    e assim me invento,
    um eu qualquer,
    sem rumo ou lar.

    dentro da gente
    há vários... quantos?
    neste momento,
    um outro quer
    se revelar.


    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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  2. Muito bom, Adriano! Obrigado e parabéns!

    Abraço

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  3. Verdade absoluta...

    Tão complexo e Sá Miranda o fez ficar tão simples!

    Abraços

    Carlos

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  4. Cicero,

    Meu poema mais recente, pra Carlito Azevedo:


    "A Poesia" - Para Carlito Azevedo


    seta sem forma,
    a poesia,
    perpassa,
    atravessa
    a sala,
    o quarto,
    o inabitável,
    revira as gavetas
    do armário,
    voraz,
    veloz,
    perfura o in-
    visível
    e acerta o

    íntimo:
    dardo sem fins,
    a poesia,
    ultrapassa
    a conversa e
    o cerne do silêncio,
    perfura a frágil folha
    da existência,
    às cegas,
    salta
    do imprevisto,
    sobre as sobras
    do infinito
    e crava-se em

    algum sentido:
    lança sem freio,
    a poesia,
    traspassa,
    dispersa-se,
    sem código de barras
    ou marca d'água,
    afunda-se
    no istmo do que se saiba,
    faca afiada, pronta
    pra tudo
    ou nada,
    finca-se
    em si.


    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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