5.6.12

Ivan Junqueira: "Lamento para Rafael"




Lamento para Rafael

E então fui ver-te neste dia escuro,
de céu nevoento e chuva pesarosa,
de ninguém pelas ruas, de uma rosa
que se inclinava, seca, sobre o muro.
Apenas tu e a morte, mote e glosa,
ali, no pátio nu, onde o futuro,
o teu, fosse talvez algo mais duro
do que a infância que te coube, anfractuosa.
O mar em tuas veias se entrelaça
à espuma em que, tritão, és como a inquieta
e atormentada alma que tens, de poeta,
de alguém que à morte um dia ergueu a taça,
quando tudo era vórtice e presságio
— e agora é só lembrança do naufrágio.



JUNQUEIRA, Ivan. O outro lado. Poemas 1998-2006. Rio de Janeiro: Record, 2007.

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