5.11.11

Vinícius de Moraes: "Máscara mortuária de Graciliano Ramos"




Máscara mortuária de Graciliano Ramos

Feito só, sua máscara paterna,
Sua máscara tosca, de acre-doce
Feição, sua máscara austerizou-se
Numa preclara decisão eterna.

Feito só, feito pó, desencantou-se
Nele o íntimo arcanjo, a chama interna
Da paixão em que sempre se queimou
Seu duro corpo que ora longe inverna.

Feito pó, feito pólen, feito fibra
Feito pedra, feito o que é morto e vibra
Sua máscara enxuta de homem forte.

Isto revela em seu silêncio à escuta:
Numa severa afirmação da luta,
Uma impassível negação da morte.



MORAES, Vinícius de. Nova antologia poética. Org. por Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

4 comentários:

  1. Cicero,


    Belíssimo poema! Digna homenagem ao mestre Graciliano Ramos! Grato por compartilhar!



    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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  2. Soneto para uma guria

    Paraíso

    Tu vens de longe, vens do paraíso,
    desse lugar das deusas e das fadas.
    Do teu carinho é tudo o que eu preciso,
    sem ele não há poema, não há nada.

    Sem ele a fala cala, e o meu juízo:
    ...a se perder no limbo dessa estrada.
    Sem tua pele, pêlo, teu sorriso:
    já não há vida, e não há paz, amada.

    Por isso, peço o teu calor humano,
    de mulher bela, meiga, inteligente,
    que não me deixe em desamparo arcano.

    Pois tudo que se quer, e a alma sente,
    nesse doce sorriso italiano,
    é enamorar-se dele eternamente...

    Mauna

    10.10.2011

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  3. Cicero,

    um poema meu:

    ‎"ou solilóquio"

    outro socorro?

    ouço dos homens
    ouço dos poucos
    ouço dos poços
    ouço dos dogmas

    ouço dos jônios
    ouço dos sólidos
    ouço dos lobos
    ouço dos córregos

    ouço dos fórceps
    ouço dos vômitos
    ouço dos toques
    ouço dos gongos

    ouço dos pobres
    ouço dos pórticos
    ouço dos bosques
    ouço dos doutos

    ouço dos gozos
    ouço dos cortes
    ouço dos tombos
    ouço dos nômades

    ouço dos sopros
    ouço dos jóqueis
    ouço dos nódulos
    ouço dos lótus

    ouço dos golfos
    ouço dos dolos
    ouço dos dólares
    ouço dos sonhos

    ouço dos nomes
    ouço dos sôfregos
    ouço dos sótãos
    ouço dos coitos

    pra quem, socorro?

    ouço dos loucos
    ouço dos mortos
    ouço dos trópicos
    ouço dos ossos

    ouço dos pólos
    ouço dos góticos
    ouço dos mouros
    ouço dos motes

    ouço dos jovens
    ouço dos fossos
    ouço dos fortes
    ouço dos sórdidos

    ouço dos tordos
    ouço dos códigos
    ouço dos foros
    ouço dos lodos

    ouço dos lógicos
    ouço dos torsos
    ouço dos tóxicos
    ouço dos brotos

    ouço dos tomos
    ouço dos tolos
    ouço dos nórdicos
    ouço dos poros

    ouço dos botes
    ouço dos coitos
    ouço dos tópicos
    ouço dos nobres

    ouço dos logros
    ouço dos cônscios
    ouço dos tornos
    ouço dos tronos

    ouso-o, socorro?

    ouço dos jorros
    ouço dos fogos
    ouço dos sóbrios
    ouço dos portos

    ouço dos olhos
    ouço dos povos
    ouço dos corvos
    ouço dos cômicos

    ouço dos vórtices
    ouço dos toscos
    ouço dos tórax
    ouço dos modos

    ouço dos novos
    ouço dos pomos
    ouço dos gostos
    ouço dos sons

    ouço dos corpos
    ouço dos troços
    ouço dos botos
    ouço dos nós

    ouço dos soltos
    ouço dos gomos
    ouço dos dotes
    ouço dos ócios

    ouço dos molhos
    ouço dos donos
    ouço dos moucos
    ouço dos sóis

    ouço dos socos
    ouço dos jogos
    ouço dos voos
    ouço dos sós

    quando os socorro?




    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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