30.11.11

Eugénio de Andrade: "O rapaz de Pasolini"




O rapaz de Pasolini

Tem o braço levantado para o sol
que rompe muito distante ainda
do seu sonho; é um rapaz
desses do Pasolini esplendidamente
nu, plantado na terra;
o braço direito,
como já disse, levantado; o outro
cai-lhe sem abandono ao longo
do corpo; o sorriso
começa nos olhos de sua mãe
e nele a mágoa
de ser traído não se anuncia
ainda; o futuro
talvez venha a ter gente assim
feita da substância
da luz; o vagaroso futuro;
o presente não, não tem.



ANDRADE, Eugénio de. O sal da língua. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1995.

4 comentários:

  1. Oi Cícero.
    segue aí uma pequena prosa poeética, um poema prosaico, sei lá!

    Abraços.

    A BORBOLETA (Victor Colonna)

    Deve ter sido por causa da noita chuvosa, abafada. De repente, ao passar por Copacabana, caíram as lembranças.

    Na minha infância, as noites eram mais longas. As luas eram mais cheias. A vida, uma certeza.

    Saía com minha mãe pelas ruas de Copacabana. Andávamos pela praia, sentindo o cheiro doce do mar morrendo na areia.

    Íamos a uma lojinha situada nos fundos de uma galeria, onde uma velha francesa vendia bonecas de porcelana que minha mãe admirava e jamais comprou.

    Havia uma doceria a três passos do nosso edifício, onde comprávamos um doce cujo nome só descobri anos mais tarde - palmier. Eu, sete anos, pedia para a atendente: - moça, me dá uma borboleta?

    E minha mãe ria, deliciada. Deliciosa.

    *** *** ***

    Hoje eu sei que as borboletas não retornam jamais!

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  2. Como se comenta o inefável? Magnífico. De lágrimas. De sangue. Escrevo e choro.

    Muito obrigada.

    Lícia

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  3. Cicero,


    lindo! Grato por compartilhar!



    Abraços,
    Adriano Nunes

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  4. Lindo poema!
    De Eugénio me lembrei do excelente poema "Requiem para Pier Paolo Pasolini" - a brutalidade da morte do cineasta e poeta.
    Abraço.

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