31.5.11

Sobre a recente entrevista de Slavoj Zizek




É interessantíssima a entrevista que Slavoj Zizek deu ao Miguel Conde, no caderno “Prosa e Verso”, de O Globo, de sábado passado.

Ninguém ignora que Zizek já defendeu, em diversos textos, a violência e mesmo o terror, já atacou a democracia, já defendeu Stalin, (“é melhor o pior terror stalinista do que a mais liberal democracia capitalista”, diz ele em “Iraque: a chaleira emprestada”), já defendeu a revolução, já defendeu o comunismo etc.

Agora, nessa entrevista, ele explica que o que entende por “totalidade” não é bem totalidade; por “violência” não é bem violência; por “democracia” não é bem democracia; por “revolução” não é bem revolução; por “comunismo” não é bem comunismo... Parece, então, que toda a fúria dele não passava de paradoxos para “épater les bourgeois”. Melhor assim: antes um comediante que um carrasco.

12 comentários:

  1. Parece que as opiniões mudam, não?
    Isso acontece por aqui também.

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  2. o zizek me parece um tanto radical. e também sabe que a polêmica faz aparecer.

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  3. Não se pode confudir relatividade com oportunismo nesses tempos de tanto faz... há quem pense que não lemos!!

    Gracias por marcar este tempo de leitura.

    Beijos.

    Carmen.

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  4. Zizek não se contradisse nem mudou de opinião. No mesmo livro em que defende a violência ele afirma que Gandhi foi mais violento que Hitler, o que nos leva a perguntar o que é que ele entende por violência. No tocante à democracia ele denuncia a sua falsa liberdade quando atrelada ao capitalismo. Cícero, não me refiro a vc, mas às vezes me parece que Zizek é mal lido no Brasil. Existe uma desconfiança em relação a ele. Outro dia o Arnaldo Jabour o acusou de farsante, o que me deixou pasmo. Aconselho a todos algumas de suas melhores obras, na minha opinião, por exemplo "Looking Awry", "Tarrying with negative", "Eles não sabem o que fazem", "Visão em Paralaxe" etc.
    Um abraço,
    Buno Holmes Chads
    espelhosemimagem.blogspot.com

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  5. Bruno,

    Parece-me que o que você está fazendo é simplesmente repetir o que o próprio Zizek afirma, na entrevista dele, ter dito sobre violência e democracia.

    E o que é que eu digo? Exatamente que, quando convém a Zizek, o sentido de “violência” deixa de ser violência e o de “democracia” deixa de ser democracia.

    Mas a leitura dos livros dele apenas confirma a sua incoerência. Por exemplo, tanto em “Defesa das causas perdidas” quanto em “Robespierre”, ele defende o Terror revolucionário, liderado por Robespierre: “Olhem para o Terror revolucionário de 1792-94. Aquilo foi a Divina Violência”.

    E mais: “Quando aqueles que estão fora do campo social estruturado atacam ‘às cegas’, exigindo e praticando imediata justiça/vingança, isso é a ‘divina violência’. Lembrem-se, há pouco mais de uma década, do pânico no Rio de Janeiro, quando multidões desceram das favelas para a parte rica da cidade e começaram a saquear e queimar supermercados – isso foi ‘divina violência’. Ou seja, os traficantes – que, irritados com determinados episódios de repressão, comandaram uns surtos de violência no Rio – foram os braços da ‘divina violência’.

    Não se vê bem o que é que a violência dos traficantes ou a de Robespierre têm em comum com a “violência” de Gandhi...

    E mais: “A divina violência é justiça, o ponto de não-distinção entre justiça e vingança, no qual o ‘povo’ (a parte anônima da não-parte) impõe seu terror e faz outras partes pagarem o preço”.

    Não, Bruno: um autor que elogia a “grandeza intrínseca de Stalin” (em “Às portas da revolução – Escritos de Lênin”), e escreve um ensaio intitulado “Contra direitos humanos” (New Left Review , julho de 2005) está apenas sendo cínico quando diz que violência, para ele, violência “significa transformação das relações sociais, e não tortura ou assassinato”.

    Nesse ponto, não posso deixar de concordar com Jabor: Zizek é um farsante.

    Abraço

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  6. Eu repeti o que ele disse na entrevista do jornal O Globo porque ele mesmo na sua última palestra (no Odeon) retomou essa comparação entre Hitler e Gandhi quando falou de violência. Há entretanto um outro tema que pode servir de exemplo para o propósito. A questão da "intolerância". Defender a intolerância como o faz não significa repúdio ao outro, ao que não é semelhante. O que ocorre é justamente o contrário. A crítica de Zizek incide no pressuposto presente na noção de tolerância por ver nele uma não aceitação silenciosa do outro enquanto outro, de sua alteridade radical. Tolerância diz respeito à convivência de partes que mutuamente não se aceitam nem se reconhecem de antemão. Outro exemplo que causa certa polêmica é o de Lênin. Em "Às portas da Revolução" Zizek defende aquele a que nomeia de 'Lênin estrategista', aquele que, segundo ele, 'não teve medo de triunfar', que 'não admite o fracasso' e 'arrisca o impossível'. Como psicanalista, Zizek valoriza a dimensão ética da atitude de Lênin, mais precisamente o seu ato, a ação por meio da qual intervém no "curso natural das coisas" e deste modo não sucumbe à artimanha ideológica que consiste em apresentar como impossível o possível. É portanto esse aspecto de Lênin que ele valoriza. Quanto a afirmação de que ele é um farsante eu não vou me pronunciar, pois essa é uma opinião sua (e do Jabor).
    Um grande abraço!
    Bruno Holmes Chads

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  7. Bruno,

    Veja como o gosto do paradoxo – que tem grande efeito publicitário, pois passa, no mundo midiático, por “profundidade” ou “originalidade” ou “coragem” – faz o Zizek dizer coisas que são ou bem contraditórias, logo, vazias, ou bem absolutamente inócuas: logo, também vazias.

    O exemplo que você deu é ótimo. A tolerância é uma qualidade apreciada, com razão, pelo bom senso liberal, enquanto a intolerância é repudiada. A tolerância representa, entre outras coisas, “a tendência admitir, nos outros, maneiras de pensar, de agir e de sentir diferentes ou mesmo diametralmente opostas às adotadas por si mesmo” (Houaiss). Pergunte a um gay se prefere viver num edifício em que as pessoas sejam tolerantes ou num edifício em que sejam, digamos, evangélicos fundamentalistas e intolerantes... Ou seja, viver entre pessoas tolerantes é, para uma pessoa liberal e moderna, indiscutivelmente melhor do que viver entre intolerantes.

    Por outro lado, é claro que a tolerância não significa a aprovação. Isso é outra coisa. O meu estilo de vida não é aprovado por um evangélico fundamentalista. Na verdade, tampouco eu aprovo o estilo de vida dele. E por que deveria? Para que possamos conviver no mesmo edifício, sem conflitos, basta que sejamos tolerantes em relação um ao outro. Em outras palavras, numa democracia liberal, ninguém tem o direito de exigir aceitação ou aprovação por parte do outro, mas cada qual tem o direito – até legalmente – de exigir tolerância, desde que, reciprocamente, também seja tolerante.

    Que faz Zizek? Apontando o caráter limitado (e que, como vimos, é necessariamente limitado) da tolerância, simplesmente a rejeita e defende a intolerância... O escândalo lhe dá espaço certo na mídia; mas, se questionado e posto contra a parede, ele afirma que o que está dizendo é algo muito mais banal, isto é, que a intolerância não chega a ser aceitação... Ou seja, de novo, a sua “intolerância” não é bem intolerância...

    Um abraço

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  8. Grande Antonio Cícero, a cada coisa sua que leio, o admiro mais e mais!

    Cheguei aqui hoje fascinado pelo seu texto no Prosa & Verso, sobre o papel que a poesia desempenha no mundo atual. Lindo e preciso!

    E me regozijei novamente com sua leitura do Zizek!

    Só me resta dizer duas coisas: parabéns e obrigado!

    grande abraço
    Leandro Jardim

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  9. Obrigado, Leandro! Você é sempre bem-vindo.

    Abraço

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  10. Conheço mal Zizek (falta minha!), portanto não vou criticar, tampouco elogiá-lo. Contudo seria trágico um intelectual grandiloquente, como ele, cair nas garras do adorado Lênin que disse a respeito da elite pensante: "De que vocês todos são bosta líquida, nós cá(isto é, o proletariado vitorioso) jamais duvidamos!"

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  11. Desculpe Cícero. Respeito muitíssimo sua poesia e seu ensaísmo. Mas isso é uma leitura absolutamente parcial, redutora e conservadora da obra do Slavoj Zizek. É complicado descontextualizar completamente uma série de provocações mais do que pertinentes de sua reflexão crítica. Dizer que Zizek é um defensor do stalinismo é, no mínimo, ou de um desconhecimento incrível da obra dele ou uma má-fé pouco interessado em sua reflexão. Jabor é conhecido por essa operação de distorção ideológica (citando frase de Lenin e outros absolutamente fora de contexto, distorcendo completamente o seu real significado). Fico por aqui. Mas prometo desenvolver ponto a ponto o que afirmei acima (reproduzindo textualmente o que Zizek afirma e desenvolve em várias de suas obras). Abraço e meus grande respeito pela abertura ao debate. Fabrício.

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  12. Determinadas idéias e argumentações sofísticas de Slavoj Zizek se encontram imunes à críticas que evidenciam suas contradições, inconsistências, insuficiências e problemas? Determinada parcela da esquerda prefere fechar os olhos para o posicionamento político autoritário de Zizek, para salvar sua profissão de fé na Sacrossanta Revolução Violenta Purificadora? Pobre da esquerda que tem como intelectual orgânico midiático alguém que supõe que o totalitarismo de um Stalin é preferível à insuficiente democracia liberal, por conta da ditadura stalinista possibilitar o reconhecimento da implacabilidade do poder despótico por parte de quem heroicamente resiste ao mesmo! Se o que importa à Lenin é sua subjetiva tenacidade e obstinação em levar a diante o processo revolucionário (de modo a justificarmos os meios repressivos de silenciamento dos mencheviques, anarquistas e demais críticos ao autoritarismo leninista), podemos concluir que os fins justificam os meios? A esquerda que deseja superar as antinomias e contradições dos projetos socialistas do século XX, não deveria se parametrizar em um pensamento que justifica a violência stalinista e maoista com as consequentes instaurações de regimes despóticos preferíveis às limitações e deficiências dos regimes democráticos representativos. Diante de um séquito de discípulos e de cultistas que defendem a ortodoxia dogmática de um pensamento autoritário, recomendo a leitura dos artigos de Ruy Fausto: http://www.revistafevereiro.com/pag.php?r=05&t=10

    http://www.revistafevereiro.com/pag.php?r=01&t=01

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