5.5.10

José Almino: A estrela fria II





A estrela fria II

Vieste em meio aos livros infantis
na tepidez das chuvas estivais
ao gosto vivo dos fonemas claros
na rima simples dos quintais.
Duraste a amplidão de uma tarde cara
e a minha sina te acolheu, tão viva
e a minha vida te abraçou, tão rara.
Ali, entre aventuras coloridas
no azul do mais azul dos sóis a pino
sagrou-se o meu destino; mais um pouco:
um certo jeito de sorrir que eu tinha
e o doce mandato da alegria
que vez por outra me acalenta a alma.



ALMINO, José. A estrela fria. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

13 comentários:

  1. Caro Cícero,

    Bonito poema.
    Bonito e cheio de sentimentos e emoções geralmente ausentes na poesia atual.
    Uma dúvida: no quinto verso é "urna" ou será "uma" ?
    Abraço,
    JR.

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  2. Caro João Renato,

    é "uma" mesmo. O scanner se enganou e não percebi, ao reler. Obrigado por me alertar. Já corrigi.

    Abraço

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  3. Linda escolha esta sua,poeta sensível! Me permita aproveitar a deixa, e lembrar um poema lindo de Jose Almino que dá "pra ver colorindo", é A RASPA DO TACHO, óia só...
    beijos de poesia,
    Nina


    A RASPA DE TACHO


    A vida miúda
    e a velha a fiar:

    um destino cocho.
    Um riso de trovas
    um mijo das trevas
    um vezo aloprado
    um peso azulado
    um sino versátil
    uma reza solar

    e a raspa do tacho
    e a velha a fiar.

    JOSE ALMINO

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  4. belo poema...

    na mesma clave:


    FOTOGRAFIA

    onde viridiana, lisandra, babi?
    e os filhos sonhados quando
    éramos sobretudo filhos?
    onde elas todas?

    o amigo que mudou de cidade,
    mudou de cara, mudou de pele?
    a vira-lata prenhe no muro
    da casa acostada? onde a casa?

    onde as antífonas da capelinha,
    as aulas de eternidade
    na duração infinita da missa?

    onde o sol foz-iguaçuense?
    que me escarnou a pele
    e me tisnou o rosto,
    pequeno caçador etíope.
    onde o rosto?

    onde as amoreiras?
    que eram árvores sem nome
    mas davam amoras
    (dói saber que árvores têm nomes,
    que amoreiras dão amoras, dói saber).

    onde tudo isso?
    em mim é que não permanecem.

    talvez o passado exista sem ser memória
    na dispersão da aura,
    na concentração das pedras.

    talvez apenas borrifou-se-me
    um perfume antigo nos olhos
    e eles ardem um sol nascente
    e eles choram o orvalho do capim.

    talvez apenas
    o menino se esqueceu de mim.

    ***

    (nota de rodapé de árvore)

    voltei a foz há um ano.
    comi amoras no pé, as mesmas amoras.
    o pé e meus pés eram os mesmos.

    o gosto mudou.

    não voltei para casa
    deliciosamente surrado,
    com a hering exangue de
    frutivoracidade.

    e já não aconteceu
    o limão frutificar
    num galho invisível...

    a amoreira, sem a infância
    pesando no durame,

    se não escrevo o poema,
    não passa de uma amoreira.

    r.m.

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  5. Cícero,

    Muito obrigada por me apresentar a este poeta. Seu lirismo é carregado de ternura e suavidade.

    Quanta delicadeza em um Mundo tão indelicado!

    BJS!!!

    Lou

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  6. Antonio Cícero, sempre apresentando poetas e poemas que antes eu não conhecia. Adoro crescer!
    Obrigada.

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  7. um poema
    que acalenta
    a alma de quem o lê.

    Abraços.

    Jefferson.

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  8. Cicero,


    Belíssimo poema! Grato por compartilhá-lo!


    Um poema recente:

    "De silêncios, nós"

    meu coração dis-
    para: a vida fiz
    de versos e voz.
    de silêncios, nós.


    Grande abraço,
    Adriano Nunes.

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  9. Cicero,

    Um poema novo:


    "vida-verso" - Para Nydia Bonetti.

    resta o verso.
    a vida é
    nada, é tudo.
    a vida é
    todo o resto.
    não me iludo.

    nesta o ver-
    so. a vida é
    tudo, é nada.
    a vida é
    o reverso.
    que cilada!

    Abração,
    Adriano Nunes.

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  10. Cicero,


    Um novo poema:

    "Onde a vida é feita" - Para Péricles Cavalcanti.


    Nada me completa.
    Sou quebra-cabeça
    Faltando uma peça,
    Sou mesmo poeta.

    Em busca de mim,
    Vivo. Sem saber
    De nada, prazer
    Encontro no fim

    Do túnel, o verso,
    Onde a vida é feita
    De forma perfeita.

    O lado perverso:
    Se apenas me caço,
    Perco outro pedaço!


    Abração,
    Adriano Nunes.

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  11. Querido Poeta!

    Há poemas tão bons, que nos fazem retornar a eles muitas vezes, Estrela fria II é um canto tão bom, tão bom, que com aquele tenho aquecido meu dias.

    Um beijo e obrigada por toda Poesia em Acontecimentos.

    Carmen Silvia Presotto
    www.vidraguas.com.br

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  12. Encantador poema, Antônio Cícero! O que, por certo, não surpreende, ante a maestria daquele que o selecionou para publicação neste blog.
    A dança e a cor dos sons nos versos remetem a uma espécie de sensorialidade cognitiva, na leitura que nos pinta painéis de essência e visualidade. As rimas fluentes e eufônicas, bem como a poesia bem cuidada de quem vaticina por dom e felicidade, dão-nos a idéia de um passeio pelos campos da linguística.
    Obrigado por nos presentear por dádivas como esta!

    Com admiração,
    Sayonara Salvioli
    www.sayonarasalvioli.blogspot.com

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