10.4.10

Paulo Leminski: "Sinfonia para pressa e presságio"




Sinfonia para pressa e presságio

          Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
          na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
          Sôo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
          do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
          que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

          Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
          e não cabe mais na sala.



LEMINSKI, Paulo. La vie en close. São Paulo: Brasiliense, 1991.

19 comentários:

  1. Um dia, se eu crescesse, queria ser exatamente assim como esse Leminski. Ele é capaz de me fazer sentir que a humanidade, em algum recôndito, vale a pena.

    Bela postagem, Cícero!
    Abraço.

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  2. Sempalavras. Saudade do poeta é a sua poesia depois. Abraço

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  3. Caro Cícero,

    esse belo poema e o título desse livro de Leminski trouxeram-me à lembrança a seguinte história:
    aqui em São Paulo, no início do ano, as chuvas fizeram estrago, Monica Bergamo comentou em sua coluna da FOLHA uma pesquisa sobre as perdas provocadas pelas enchentes. Como ocorre em muitas cidades, os moradores da periferia perderam suas casas, seus pertences, nas grandes avenidas da zona sul, houve muito trânsito. Na tal pesquisa, o que surpreende, as pessoas da zona sul afirmaram que foram muito afetadas pelas chuvas, pois perderam horas para chegar ao trabalho, já as pessoas da periferia, ou pelo menos boa parte delas, afirmaram que não foram tão afetadas, pois só haviam perdido os bens, restou a vida.

    Abraço.

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  4. LEMINSKI
    Gustavo Felicíssimo

    Era um poeta iconoclasta
    beijando os barrocos umbrais,
    um samurai à brasileira
    medindo o vôo dos pardais;

    era como se não bastasse
    e como se em si não coubesse:

    hoje canta e vive na praça,
    na plenitude da palavra,
    nos bares, nos becos da raça,

    na luta de classes, nos livros:
    anjo louco, poeta vivo.

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  5. Fico impressionada: não consigo ler um só poema de Leminski que não me emocione. Este me pareceu de ritmo lindo, viajei em sua pressa e nos seus presságios.

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  6. Eu não tenho esse livro do Leminski, embora o conheça, porque o li quando saiu. Mas que poema! Caramba! Ele toca na pele da poesia. Valeu, A. Cicero.
    João Batista

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  7. A canção de hoje é "Acontecimentos", com Marina Lima.
    Acesse: http://365cancoes.blogspot.com/

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  8. Parabéns pelo blog, pelo bom gosto, pela obra!

    Abraços

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  9. A forma flutua
    Na ponta dos dedos
    Vão-se os medos
    Todas as crises
    E o entorno
    (comédia, tragédia)
    são as cores dos vitrais
    Ah, quem dera fosse o contorno
    Dos teus ombros, meu umbral.

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  10. Cicero,

    Tão perfeito que parece ter vida !



    Abraço grande,
    Adriano Nunes.

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  11. the hunger

    mal acordei
    disseste que tudo foi muito
    irado,
    antes de partir naquela manhã fria

    tentei ainda lhe dizer que achei bacana
    que levasse meu casaco

    mas já era tarde
    já era dia

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  12. Leminski e sua poesia. Como não parar para pensar em versos tão provocativos? Excelente escolha caro Cícero. Excelente ter conhecido seu blog! Aproveito para parabenizá-lo, mesmo tardiamente, por sua poesia que tenho acompanhado e seu trabalho no livro "Nova Antologia Poética" de Vinicius de Moraes... Abraço!

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  13. Perco o ar lendo um poema belo e claro como este. Prezado Antônio Cícero, aliás, este blog é notavelmente indispensável. Abraços.

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  14. Странно, искал совсем не это, гугл выдал Ваш сайт, и судя по всему не зря, есть что почитать! Goodwork!

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  15. Приветсцтвие, анонимный!

    Спасибо!

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