28.8.09

Evando Nascimento: "pensamento (feições)"




pensamento
(feições)

e fazer a coisa
e pensar a coisa
e pensar é fazer a coisa
e a coisa se faz pensando
e fazendo a coisa se pensa
e pensando a coisa se faz
e pensar a coisa é fazer
e fazer pensar é a coisa
e pensar fazer é quase
a mesma coisa.

(03.III.05)


NASCIMENTO, Evando. Retrato desnatural. (diários - 2004 a 2007). Rio de Janeiro: Record, 2008.

12 comentários:

  1. o horror do Anticristo de Lars Von Trier, é o desfazimento do corpo ou pensamento da coisa?

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  2. apenas três palavras para dizer muito! O poema tem tudo a ver com o Evando; com o que conheço dele por livros e palestras.

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  3. Cicero,

    Ótimo! Deixo aqui dois poemas do Arnaldo Antunes que me remetem à mesma sensação:


    "Pensamento"
    Composição: Arnaldo Antunes


    Pensamento que vem de fora
    e pensa que vem de dentro,
    pensamento que expectora
    o que no meu peito penso.
    Pensamento a mil por hora,
    tormento a todo momento.
    Por que é que eu penso agora
    sem o meu consentimento?
    Se tudo que comemora
    tem o seu impedimento,
    se tudo aquilo que chora
    cresce com o seu fermento;
    pensamento, dê o fora,
    saia do meu pensamento.
    Pensamento, vá embora,
    desapareça no vento.
    E não jogarei sementes
    em cima do seu cimento.




    "Nasça"
    Arnaldo Antunes


    nasça o que nasce
    e que passe o que passa

    mesa cadeira
    televisor
    sol geladeira
    lençol cobertor
    árvore telha
    vento vapor
    pássaro abelha
    despertador

    nasça o que nasce
    e que passe o que passa

    leite cigarro
    gelo café
    plástico ferro
    pão chaminé
    chave moeda
    página pé
    fósforo pedra
    sangue chiclé

    nasça o que nasce
    e que passe o que passa


    Abração,
    Adriano Nunes.

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  4. Logo, a diferença entre fazer pensar (objeto de toda arte) e pensar fazer (mesmo quando fazemos) é tênue e nos traz uma verdade, geralmente oculta: é mais fácil não fazer nada, mesmo na suprema ação, quando mergulhados na reificação, que nada fazermos e assim conseguirmos constituir uma ação efetiva, ainda que pela negação de qualquer ação.

    Leonardo Menezes/Brasília

    Poesia em nexogrupal.blogspot.com. Dá uma olhada lá, Cícero!

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  5. Obs: para publicar o último comentário, por favor suprima seu fim, quando falo de nosso blog.

    Obrigado.

    Leonardo Menezes

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  6. Leonardo,

    não tenho como suprimir nada dos comentários. A única escolha que tenho é publicá-los ou não os publicar. Se você quiser, eu o retiro; mas não vejo razão para isso. Fui ao nexogrupal e gostei. E recomendo.

    Abraço

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. é quase...
    quase que é como um fio de vida entre o pensante e o pensado
    entre a coisa e o a idéia...

    não era,
    mas foi quase...

    (...a mesma coisa)

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  9. Cicero,


    coloquei o soneto "ANTONIO CICERO" recitado em meu blog. Se der, veja, ok? MUITO GRATO!


    ABS,
    A. NUNES.

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  10. Adriano,

    quem agradece sou eu. Adorei. Muito obrigado.

    Abraço

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  11. que maravilha este poema!!

    sabe o que estas linhas me lembraram? o texto onde você escreve muitíssimo bem sobre o fato de não partirmos quando fazemos ou lemos um poema.

    pensar fazendo, fazer pensando, pensar e fazer como a mesma coisa, isso me remete à identidade do poema, isto é, significado e significante, na poesia, não se separam; nada se separa de nada; nada parte.

    fazer, pensar, pensar, fazer, tudo ao mesmo tempo, sem deixar que nada escape - nem o fazer, nem o pensar.

    adorei!!

    beijo, poetósofo de primeiríssima!!

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