7.7.09

Glauco Mattoso: "Soneto contrariado"

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Soneto contrariado (541)


Por ser o cedo tarde e o tarde cedo;
por ser tarde a manhã e a noite dia;
por ser gostosa a dor, triste a alegria;
por serem ódio amor, coragem medo;

Se o plágio é mais invento que arremedo;
se exprime mais virtude o que vicia;
se nada vale tudo que valia;
se todos já conhecem o segredo;

Por ser duplipensar barroco a língua;
por menos ter aquele que mais quer;
se a falta excede e tanto abunda a míngua;

Por nunca estar o nexo onde estiver,
desdigo o que falei e a vida xingo-a
de morte, se a cegueira é luz qualquer.



De: MATTOSO, Glauco. Poesia indigesta.. São Paulo: Landy, 2004.

15 comentários:

  1. Cicero,


    Que belíssimo soneto! Estou espantado!Excelente postagem! Parabéns!


    Abraço forte!
    Adriano Nunes.

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  2. cicero, como conceguir o cd todo para comprar antonio cicero por antonio cicero. agradeço imensamente se puderes me der essa informação. acompanho sempre seu blog. abraço, isaias.

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  3. Resisto não: você, Cícero, Glauco Mattoso, Nelson Ascher, Arnaldo Antunes, Paulo Henriques Britto e Marcelo Diniz: uma poesia que tem essa qualidade em atuação, como a poesia brasileira atual, é uma grande poesia. Com todos os ecos! poesia poesia poesia pois é poesia.

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  4. Cheio de oxímoros, eis um belíssimo soneto que dá gosto ler e reler, para ir ao fundo das contradições.

    Domingos da Mota

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  5. Assino embaixo o post do Bozzetti. Também não resisti a indicar o site onde podemos encontrar nada menos do que 3031 sonetos do Glauco:
    http://glaucomattoso.sites.uol.com.br/
    É impressionante, ainda mais se levarmos em consideração a qualidade dos poemas.

    abraço!

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  6. Glauco Mattoso é ótimo quando não está escrevendo sobre os caralhos. Aquilo é um horror.

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  7. Isaias,

    eu adoraria poder lhe enviar um exemplar de presente, mas não tenho mais. Que eu saiba, ele está à venda pela Internet, na Livraria Cultura, por exemplo.

    Abraço

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  8. Esse glaucoma enxerga grande luz mesmo - contrariedade grandiosa. Valeu pelo texto. Lindo poema, lindo mesmo.

    Um forte abraço.
    Jefferson.

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  9. Vinicius,

    discordo veementemente de vc.
    só posso ver moralismo no seu post.
    o glauco é tão bom escrevendo sobre caralhos quanto escrevendo sobre a flor.
    recomendo a leitura do "manual do podólatra amador" ou dos "contos hediondos"

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  10. Antônio,
    o Glauco Mattoso é um sonetista e tanto. Segue aí um soneto:

    POST SCRIPTUM (VICTOR COLONNA)



    Deixo para o mundo minha gastrite
    Minha enxaqueca e um pouco de azia
    As minhas madrugadas sem limite
    E a angústia sob o sol do meio-dia.

    Deixo também, como herança, a preguiça
    A luxúria,o orgulho e a ironia
    Uma dose de veneno e de cobiça
    E a descrença acrescentada à apatia.

    Podem levar meus amores relapsos
    Minha loucura crônica, os colapsos
    E um eventual resto de alegria

    Mas fica aqui comigo, guardado
    Aquele que será o meu legado
    Minha alma seca e minha poesia.

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  11. Há sonetos que não dizem sim,
    Há sonetos que não dizem não.
    Uns que fedem a botequim,
    Outros a mirra e a açafrão.

    Se não há nada a dizer
    O nada é um bom pretexto.
    O ser a vir e o vir a ser
    Podem vir a ser um soneto.

    Para entreter a razão
    Há um comboio de corda,
    Um banquinho e um violão.

    Para entreter todo o resto
    Cinema e televisão,
    O circo e o Congresso.

    []´s

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  12. cicero,

    ARREBATADOR!!!

    soneto lindo lindo lindo!! contrariado MESMO (rs)!!

    apaixonei-me por esses versos!!

    valeu a apresentação, meu bardo bárbaro!!

    beijo beijo beijo!!

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  13. Caro Antonio,

    Também aqui, em Lisboa, tenho esse livro para venda.

    Espero que esteja tudo bem consigo.

    Um abraço,
    Changuito

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  14. Que prazer recebê-lo aqui, Changuito!
    Viva a livraria Poesia Incompleta!

    Quem estiver em Lisboa ou por lá passar não deve deixar de ir à Poesia Incompleta, livraria especializada em poesia. O endereço é n.º 11 da Rua Cecílio de Sousa, entre o Príncipe Real e a Praça das Flores.

    Abraço

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  15. Uma lastima não respeitarem a orthographia utilizada pelo poeta.

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