5.11.08

Elizabeth Bishop: "One art" / "Uma certa arte" (tradução de Nelson Ascher)

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One art


The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last,
or next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.




Uma certa arte

A arte da perda é fácil de estudar:
a perda, a tantas coisas, é latente
que perdê-las nem chega a ser azar.

Perde algo a cada dia. Deixa estar:
percam-se a chave, o tempo inutilmente.
A arte da perda é fácil de abarcar.

Perde-se mais e melhor. Nome ou lugar,
destino que talvez tinhas em mente
para a viagem. Nem isto é mesmo azar.

Perdi o relógio de mamãe. E um lar
dos três que tive, o (quase) mais recente.
A arte da perda é fácil de apurar.

Duas cidades lindas. Mais: um par
de rios, uns reinos meus, um continente.
Perdi-os, mas não foi um grande azar.

Mesmo perder-te (a voz jocosa, um ar
que eu amo), isso tampouco me desmente.
A arte da perda é fácil, apesar
de parecer (Anota!) um grande azar.



BISHOP, Elizabeth. In: ASCHER, Nelson. Poesia alheia. 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro: Imago, 1998.

10 comentários:

  1. CICERO,

    Sempre é bom amar a sensisbilidade. Salve Bishop!!




    "Argument"


    Days that cannot bring you near
    or will not,
    Distance trying to appear
    something more obstinate,
    argue argue argue with me
    endlessly
    neither proving you less wanted nor less dear.

    Distance: Remember all that land
    beneath the plane;
    that coastline
    of dim beaches deep in sand
    stretching indistinguishably
    all the way,
    all the way to where my reasons end?

    Days: And think
    of all those cluttered instruments,
    one to a fact,
    canceling each other's experience;
    how they were
    like some hideous calendar
    "Compliments of Never & Forever, Inc."

    The intimidating sound
    of these voices
    we must separately find
    can and shall be vanquished:
    Days and Distance disarrayed again
    and gone...

    Elizabeth Bishop


    FORTE ABRAÇO!
    ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Mar aberto
    Destino incerto
    O poema traça
    Dia a dia
    Entre dor e alegria
    Sua própria rebeldia
    Seu destino de menino
    Sem credo, sexo ou raça.

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  4. As pessoas encerram em si a própria decepção.



    Uma amiga se revela avara.

    Um companheiro se amesquinha.



    A vida inteira é sufocada em toneladas de objetos vãos.



    Fico olhando as pessoas se perderem e não sinto nada.



    Não é comigo.

    Sou impassível.

    Eu já morri.

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  5. lindo, cicero!

    é aquela tal estória: vivendo e aprendendo a jogar; nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar.

    ganhos e perdas, alegrias e tristezas, excitações e frustrações, tudo isso faz parte do jogo da vida. aprender a lidar com o que, a princípio, parece pertencer à adversidade é de suma importância para se viver bem. lya luft tem um livro muito bonito sobre a questão, vale a pena conhecê-lo. chama-se "perdas e ganhos".

    beijo grande nocê, bonito!

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  6. Acabei de descobrir seu blog...que felicidade para um final de tarde de sábado! Obrigada por compartilhar tanta delicadeza...

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  7. Cícero, que massa encontrar o seu blog atraves do poema de E. Bishop...de quem não sei nada, apenas o referencial de uma dramaturga Aninha Franco t~e - la citado em uma entrevista...grande abraço!

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  8. Adoro Elisabeth Bishop....
    Esse poema é lindo!!!!
    Eu,a descobri pesquisando, depois do "Flores Raras"
    Linda história de amor dela e Lota Macedo Soares.
    Parabéns,pela postagem de um poema dela....amei!...
    Vou conhecer melhor esse site...gostei muito!

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  9. Esse poema me intriga.tento me convencer,mas não consigo, que ele fala que perder faz parte. Não sinto que é isso que me diz. Pra mim está falando do quanto é difícil lidar com a perda

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