12.10.08

Pedro Salinas: "[No te veo]" / "[Não te vejo]

[Não te vejo]

Não te vejo. Bem sei
que estás aqui, atrás
de uma frágil parede
de ladrilhos e cal, bem ao alcance
da minha voz, se chamasse.
Mas não chamarei.
Chamarei amanhã,
quando, ao não te ver mais
imagine que continuas
aqui perto, ao meu lado,
e que basta hoje a voz
que ontem eu não quis dar.
Amanhã... quando estiveres
lá atrás de uma
frágil parede de ventos,
de céus e de anos.


[No te veo]

No te veo. Bien sé
que estás aquí, detrás
de una frágil pared
de ladrillos y cal, bien al alcance
de mi voz, si llamara.
Pero no llamaré.
Te llamaré mañana,
cuando, al no verte ya
me imagine que sigues
aqui cerca, a mi lado,
y que basta hoy la voz
que ayer no quise dar.
Mañana... cuando estés
allá detrás de una
frágil pared de vientos,
de cielos y de años.



De: SALINAS, Pedro. Poesias completas. Madrid: Aguilar, 1961.

12 comentários:

  1. 'tá que o pariu, cicero! que poema lindo, arrebatador!

    e melancólico... êêê, vida!...

    maravilha, poeta!

    bitoca!

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  2. Recordações da casa antiga,

    da vida antiga

    e do prego que a segura na parede.



    Todos estão mortos.



    Minha cabeça é um cemitério de ilusões.

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  3. De fato, Paulinho, esse poema é uma obra-prima.
    Beijo,
    ACicero

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  4. Oi Cícero!
    Belíssimo poema!Emocionante e emocionada fiquei...
    Pedro Salinas diz tudo com grande maestria...Parabéns pelo blog,li seus textos e poetas postados ,gosto refinado!
    Um beijo,angela

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  5. A urgência de encontrar a palavra
    Outra não era senão o desespero
    Da chama fugaz que clareia
    Todo amor sem nunca dizê-lo

    Porque nessa hora silenciosa
    De memória sem segredo
    É que sinto viva nossa
    Verdade livre de todo medo

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  6. Caro Cicero,
    a construção deste poema é tão soberba que chega a fragilizar o leitor. E a passagem do verso "cuando, al no verte ya" para o seguinte "me imagine que sigues" ficou mais impactante na tradução. Maravilha!
    Abraço.

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  7. Ao coração que sofre, separado
    Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
    Não basta o afeto simples e sagrado
    Com que das desventuras me protejo.

    Não me basta saber que sou amado,
    Nem só desejo o teu amor: desejo
    Ter nos braços teu corpo delicado,
    Ter na boca a doçura de teu beijo.

    E as justas ambições que me consomem
    Não me envergonham: pois maior baixeza
    Não há que a terra pelo céu trocar;

    E mais eleva o coração de um homem
    Ser de homem sempre e, na maior pureza,
    Ficar na terra e humanamente amar.

    de Olavo Bilac, "Ao coração que sofre".

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  8. CICERO,


    COMO É MARAVILHOSO VER BELOS POEMAS! COMO NOS SALVA DE DORES IMENSAS! BELÍSSIMO POEMA, CARO AMIGO!



    P.S.: ESTIVE DOENTE - CONTRADIÇÃO IRÔNICA - MÉDICO DODÓI! POR ISSO NÃO ACOMPANHEI A TEMPO AS ENCANTADORAS POSTAGENS... MAS TÔ ME RECUPERANDO!

    FORTE ABRAÇO!
    ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.

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  9. Adriano,

    sinto muitíssimo que você tenha estado doente. Que bom que está se recuperando e que está de volta!

    Abraço,
    ACicero

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  10. meu deus que loucura. vc só posta maravilhas!!!!
    ana lins
    :)

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