22.6.08

Carlos Pena Filho: "Soneto do desmantelo azul"

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Soneto do Desmantelo Azul

Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.


De: PENA FILHO, Carlos. "A vertigem lúcida". In: Livro geral. Olinda: Gráfica Vitória, 1977.

3 comentários:

  1. Perdido no deserto
    O caminhante sente sede
    Vê algo verde
    Parece que está perto

    Liberto da dó e do nó
    Vai em direção às águas calmas
    Lava seu corpo do pó
    E da vertigem da alma

    No chão de cimento divaga sobre a
    lisura
    Transparente do ser ausente
    Nos seus olhos resplandecente

    Sob o céu azul e quente
    Afaga seus dedos docemente
    Enquanto tece o bordado na seda
    mais pura.

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  2. nossa senhora, cicero, que poema lindo! que coisa maravilhosa, arrebatadora...

    apaixonei-me pela pena do carlos (rs)!

    azul azul azul, cor da minha predileção.

    azul azul azul... cor que, para sempre,

    luza!

    beijo grande, bonito, cercado de cores!

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  3. Caro Antonio,
    Adoro esse poeta e, particularmente, esse poema. Fiquei muito contente por você o estar divulgando em seu blog.
    Um abraço.

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