15.5.08

Luís Miguel Nava

MANUEL

Fui ter com ele à Feira Popular, donde minutos
depois partimos para Sintra. Lembro-me
de o carro avançar à velocidade do meu sangue.
No Guincho, onde momentos antes
de o sol se pôr parámos, vi o mar
ganhar no espírito dele outra ondulação.
De nós, assim o soube, erguem paisagens
as viagens. Entre a pele e o coração alçam-se as pontes.


De: NAVA, Luís Miguel. "Onde à nudez". In: Poesia completa. Org. CRUZ, Gastão. Lisboa: Dom Quixote, 2002, p.62.

6 comentários:

  1. pôxa vida, que lindo, cicero, lindo demais...

    "vi o mar ganhar no espírito dele outra ondulação."

    "De nós, assim o soube, erguem paisagens as viagens."

    "Entre a pele e o coração alçam-se as pontes."

    destacadas, desse jeito, ganham ainda mais força os poemorações. que maravilhas!

    o luís miguel bem que podia me apresentar o manuel (rs rs)... adorei!

    um beijo enorme n'ocê!

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  2. a poesia

    ao sol

    entoa sal

    e tempestade

    lavra

    engenho

    palavra

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  3. Que precisão e que tensão nestas imagens, que fluxo em espiral neste pensamento.
    Não conhecia este Nava. Terei que ler mais.
    Obrigado, Cícero!
    Prazer sempre em vir aqui.
    gande abraço,
    Nuno Rau.

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  4. observador,

    eu descubro muita coisa através do seu conhecimento,

    seu blog é realmente estimulante,

    casamento de conteúdo e forma.

    ...agora este trecho do Nava!

    lindíssimas imagens, realmente,

    um abraço!

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  5. FINAL

    Não foi sem dificuldades que este livro rompeu através dos interstícios do mundo até chegar às tuas mãos, leitor, para aí, como um deserto a abrir noutro deserto, criar uma irradiação simbólica, magnética, onde o branco do papel e o negro das palavras, essas cores que segundo Borges se odeiam, pudessem fundir-se e converter-se nessa outra a que, na enimática expressão de Sá-Carneiro, a saudade se trava. Como um desses objectos cujo peso, assim que neles pegamos, instantaneamente se divide entre as nossas mãos e a alma, é mesmo de crer que ele esteja já dentro de ti -- e algo de mim com ele. Acolhe-o, pois, com benevolência, que, chegada a altura, havemos de arder juntos.

    In Vulcão, Luís Miguel Nava. Quetzal Editores, 2a. edç, 1995.

    abraço,
    filipa.

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