20.11.07

Poema de Marco Lucchesi: para ler, clique em página por página




6 comentários:

  1. Maravilha de espaço, maravilha de poesias. Versos que pulsam e além, instigam, enumeram fatos, encanto e verso e eis que de repente leio algo vasto além do poema em si.

    Muito bom, Cícero.
    Abraço grande.

    ResponderExcluir
  2. Muito obrigado por palavras tão gentis, Clóvis. Seja bem-vindo!
    Abraço grande,
    Antonio Cicero

    ResponderExcluir
  3. Esse Villaça é o Marcos Antonio Villaça? Muito bonito o poema, Cícero. Parabéns ao autor.Aquele abraço.

    ResponderExcluir
  4. Nem sei se posso postar um poema.
    Que bom este blog, o conheci por acaso. 10. O poema de Marco Lucchesi é muito bonito e me lembrou esta poesia bela e forte.

    Epitáfio

    (...)

    "Matou-se de paixão ou morreu de preguiça,
    Se vive, é só de vício; e deixa apenas isso:
    - Não ser a sua amante foi seu maior suplício. -

    Não nasceu por nenhum lado
    E foi criado como mudo,
    Tornou-se um arlequim-guisado,
    Mistura adúltera de tudo.

    Tinha um não-sei-que, - sem saber onde;
    Ouro, - sem trocado para o bonde;
    Nervos, - sem nervo; vigor sem "garra";
    Alma, - faltava uma guitarra;
    Amor, - mas sem bastante fome.
    - Muitos nomes para ter um nome. -

    Idealista, - sem idéia. Rima
    Rica, - sem matéria-prima;
    De volta, - sem nunca ter ido;
    Se achando sempre perdido.

    Poeta, apesar do verso;
    Artista sem arte, - ao inverso;
    Filósofo - vide-verso.

    Um sério cômico, - sem sal.
    Ator: não soube seu papel;
    Pintor: do-ré-mi-fá-sol;
    E músico: usava o pincel.

    Uma cabeça! - sim, de vento;
    Muito louco para ter tento;
    Seu mal foi singular de mais.
    - Seus pés quebrados, pés demais.

    Avis rara - mas de rapina;
    Macho... com manha feminina;
    Capaz de tudo, - bom pra nada;
    Com certeza, - por certo errada.

    Pródigo como o filho errante
    Do Testamento, - herança vacante.
    Rebelde, - e com receio do lugar
    Comum não saía do lugar.

    Colorista sem cavalete;
    Imcompreendido... - abriu o peito:
    Chorou, cantou em falsete;
    - E foi um defeito perfeito.

    Não foi alguém, nem foi ninguém.
    Seu natural era o ar bem
    Posto, em pose para a posteridade;
    Cínico, na maior ingenuidade;
    Impostor, sem cobrar imposto.
    - Seu gosto estava no desgosto.

    Ninguém foi mais igual, mais gêmeo
    Irmão siamês de si mesmo.
    Viu-se a si próprio ao microscópio:
    Micróbio de seu próprio ópio.
    Viajante de rotas perdidas,
    S.O.S. sem salva-vidas...

    Muito cheio de si para aturar-se,
    Cabeça "alta", espírito ativo,
    Findou, sem saber findar-se,
    Ou vivo-morto ou morto-vivo.

    Aqui jaz, coração sem cor, desacordado,
    Um bem logrado malogrado."

    Tristan Corbière
    (Tradução de Augusto de Campos)

    ResponderExcluir
  5. Caro anônimo,

    Muito obrigado por postar a bela tradução de Augusto do belo poema de Corbière. Adorei.

    Abraço,
    Antonio Cicero

    ResponderExcluir
  6. Lindo poema do Marco Lucchesi! Belíssima homenagem a esse grande escritor que foi Antonio Carlos Villaça. E quanto a Marco, um dos grandes nomes da poesia(mas não só!) que surgiu por aqui desde nessas últimas duas décadas. A amplidão e a profundidade dos seus interesses, a força, a fome, a passionalidade da sua erudição sempre sensível, sempre insatisfeita com as soluções fechadas, redutoras, cansadas e fáceis, fazem dele, na minha opinião um dos grandes intelectuais que o Brasil produziu. A grande figura humana que ele é ilumina e dá um relevo ainda maior à sua figura, sempre generosa, sempre disposta ao diálogo verdadeiro. Por isso insisto nesse "paradoxo Lucchesi", já que Marco desfaz completamente o lugar-comum que opõe "erudição" e "sensibilidade", poucos tão eruditos e poucos que conseguem tornar essa erudição espantosa uma massa viva, em fluxo passional, pulsante. Mas a chave para esse "paradoxo" (paradoxo ou incompatibilidade apenas para aqueles de visão rasa...) talvez esteja sugerida no volume de breves "clarões memorialísticos" que é o seu livro "Saudades do Paraíso": o 'leitmotiv' de Marco é o menino-poeta que lá aparece em muitos momentos, que se espanta com a vastidão do mundo, de suas possibilidades quando navega no transmissor de ondas curtas do pai...

    Parabéns Cícero pelo belíssimo blog! Você que é uma das vozes mais sensíveis da nossa poesia.

    Fabrício Gonçalves

    ResponderExcluir