14.3.07

João Cabral sobre Theodor Adorno

Gosto muito do que, a partir de uma pergunta de Luiz Costa Lima, João Cabral -- no número a ele dedicado dos Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles, em 1996 -- declarou sobre Theodor Adorno. Não concordo, porém, com o que ele diz sobre Rilke. Terá realmente havido, no século XX, algum poeta maior do que o autor dos Neue Gedichte? Duvido. Mas eis o trecho a que me refiro:

Luiz Costa Lima: Infere-se do que Theodor Adorno declarou certa vez que, depois de Auschwitz, se tornou extremamente difícil escrever um poema (sua formulação por sinal era muito mais contundente). Você concorda que o mundo atual tornou difícil ou mesmo impõe uma prática distinta da tradição que se desenrola, digamos, de Petrarca a Rilke?

João Cabral: Não. Cada poeta reflete sua época. O mundo não parou depois de Rilke. Existem muitos poetas maiores que Rilke depois dele.

Marly de Oliveira: A propósito desta pergunta, você não teria algo a acrescentar a respeito da colocação de Adorno?

João Cabral:A afirmação do Adorno é uma boutade, porque o mundo não se detém e sempre foi violento. A poesia nasceu muito mais da infelicidade que da felicidade. Depois da Primeira Guerra houve grandes escritores, desde Valéry até os surrealistas.

4 comentários:

  1. tô com o cabral. a poesia não é um produto da civilização que se contrapõe à barbárie. a poesia é uma "necessidade" humana, vai além da racionalização de procedimentos "estéticos". a poesia é necessária assim como o cantar e o desenhar são necessários para uma criança. o que não é "necessário" é a forma como habitualmente conhecemos a poesia, i.e., em versos. isto pode estar com os dias contados, mas a poesia, não, ela só morrerá com a morte do último homem.
    abraços.

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  2. O poeta Paul Celan esteve em Auschwitz e escreveu depois disso.
    E como.

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  3. Desnecessário dizer que o mundo sempre foi violento. Como se Auschwitz fosse apenas uma violência a mais. Naquele específico momento, para alguns poetas, talvez tenha sido mesmo difícil pensar em produzir alguma coisa em termos de arte.

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  4. A poesia não suporta a realidade, mas é exatamente por não suportá-la, que nasce.

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