tag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post5879329157674628123..comments2024-03-15T11:34:24.681-03:00Comments on ACONTECIMENTOS: O relativismo e a modernidadeUnknownnoreply@blogger.comBlogger31125tag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-2218662252081250562020-03-31T01:36:26.239-03:002020-03-31T01:36:26.239-03:00Eu iria argumentar a favor de Rorty, mas vi que o ...Eu iria argumentar a favor de Rorty, mas vi que o Antonio Claudio Engelke o fez brilhantemente. Melhor que eu que sou graduado em filosofia. Apenas gostaria de acrescentar alguns tópicos sobre a discussão entre relativismo, racionalidade, etc. O que Rorty diz em Verdade e Progresso é que a verdade não pode ser relativa, mas sim sua justificação. Mas também diz com Davidson, que não é o 'verdadeiro' é algo indefinível. O único critério para a verdade é a justificação. Contudo, não há justificação absoluta. Noto que o Cícero está apegado ao vocabulário ou ao jogo de linguagem apodítico, que se pretende aretórico, e não percebe a ambiguidade da sua própria linguagem. Palavras como razão, verdade, racionalidade, são todas ambíguas porque históricas, porque é impossível lhes dar uma definição descontextualizada, sans phrase. Todas as tentativas de desambiguação da linguagem fracassaram. Por fim, trago a luz a retórica. Aristóteles foi mais sábio que Platão por perceber que toda argumentação se dirige a um auditório e que é preferível o verossímil que persuade do que o verdadeiro que não convence. Havia entre os gregos uma noção pouco lembrada atualmente, a endoxia. Entre a doxa e a episteme está a endoxia, o razoável. Ela é semelhante à noção de Tópica aristotélica: a opinião dos melhores, da maioria, e dos mais sábios. Duas pessoas podem defender duas teses contrárias e ambas serem razoáveis. Entre o relativismo e o realismo está a razoabilidade, e só pode haver razoabilidade pela justificação a um auditório, ao qual é preciso ter modéstia para se dirigir e se adaptar a suas premissas. Cauim Ferreirahttps://www.blogger.com/profile/00044289946876137724noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-58047885710630575812019-04-08T23:22:55.322-03:002019-04-08T23:22:55.322-03:00Esa resposta é oq q n entendi
Esa resposta é oq q n entendi<br /><br />Anonymoushttps://www.blogger.com/profile/02627568760809786462noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-14803315585986460752011-03-01T13:34:43.808-03:002011-03-01T13:34:43.808-03:00"Portanto, a cultura nunca nos oferece signif..."Portanto, a cultura nunca nos oferece significações absolutamente transparentes, a gênese do sentido nunca está terminada. Aquilo a que chamamos com razão nossa verdade, sempre o contemplamos apenas num contexto de signos que datam o nosso saber. Sempre lidamos apenas com arquiteturas de signos cujo sentido não pode ser posto à parte, pois ele nada mais é senão a maneira pela qual aqueles se comportam um em relação ao outro, pela qual se distinguem um do outro - sem que tenhamos sequer a consolação melancólica de um vago relativismo, já que cada uma dessas operações é realmente uma verdade e estará salva na verdade mais compreensiva do futuro..." (Merlau-Ponty - Signos)José Pradohttps://www.blogger.com/profile/17993564880592044286noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-365705340582972962009-05-04T20:28:00.000-03:002009-05-04T20:28:00.000-03:00Antonio,
O que você diz é: “continuo discordando...Antonio, <br /><br />O que você diz é: “continuo discordando de que defesa do falibilismo possa se dar de uma forma não-falibilista”. <br /><br />Discordar não é ainda apresentar argumentos.<br /><br />Além disso, você diz: “me parece que a sua postura é contraditória”. <br /><br />“Me parece” is just not good enough, como diria Rorty. Você tinha que provar o que lhe “parece”. Mas não; o que você diz é: “não importa o que você diga sobre a tautologia etc.” Ou seja, você não aceita nem é capaz de refutar argumento nenhum, não importa qual ele seja. Não aceita por dogma. Não é que você não fale à minha maneira. É que você fala à maneira dogmática.<br /><br />Não posso perder tempo com dogmas ou brincadeiras. Encerro aqui, “dogmaticamente”, esta discussão.<br /><br />Passe bem.Antonio Cicerohttps://www.blogger.com/profile/16263107813619900521noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-37979974545469963492009-05-04T19:56:00.000-03:002009-05-04T19:56:00.000-03:00Ué, mas eu apresentei argumentos contra a sua posi...Ué, mas eu apresentei argumentos contra a sua posição: creio que ela é contraditória. <br /><br />Pode ser então você não considere meus argumentos "racionais" -- ao que eu responderia (seguindo Rorty) que eu apenas me recuso me falar à sua maneira.<br /><br />E não vejo como o fato de eu discordar de você, sabendo e assumindo que eu posso estar errado, faça de mim um dogmático.<br /><br />Abraço,Unknownhttps://www.blogger.com/profile/06395959331953463670noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-5147663000628829832009-05-04T18:35:00.000-03:002009-05-04T18:35:00.000-03:00Antonio,
a verdade é que se você entende a minha ...Antonio,<br /><br />a verdade é que se você entende a minha posição e não concorda, embora não seja capaz de apresentar argumentos racionais contra ela, você é dogmático e, no fundo, não reconhece erro nenhum.Antonio Cicerohttps://www.blogger.com/profile/16263107813619900521noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-38698233770483200872009-05-04T18:09:00.000-03:002009-05-04T18:09:00.000-03:00Sim, caro Cicero, a princípio tive dificuldades em...Sim, caro Cicero, a princípio tive dificuldades em entender seu ponto, mas depois consegui. Mas entender é uma coisa, concordar é outra.<br /><br />E continuo discordando de que a defesa do falibilismo possa se dar de uma forma não-falibilista. Talvez eu não seja inteligente o suficiente. Talvez eu esteja errado. De qualquer forma, ao fim e ao cabo, me parece que a sua postura é contraditória, não importa o que você diga sobre a tautologia etc.<br /><br />Agora, se em função disso você quiser me chamar de dogmático, tudo bem. É apenas irônico, dado que eu sou capaz de reconhecer a falibilidade de minha posição -- e você, não. <br /><br />Abraço,<br /><br />AntonioUnknownhttps://www.blogger.com/profile/06395959331953463670noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-72328392633910221552009-05-04T17:54:00.000-03:002009-05-04T17:54:00.000-03:00Antonio,
Você disse que entendeu o meu ponto sobr...Antonio,<br /><br />Você disse que entendeu o meu ponto sobre o falibilismo e que sua dificulade estava em "reconhecer a tautlogia do argumento que sustenta o falibilismo" <br /><br />Agora você volta ao mesmo ponto, como se não tivesse sido resolvido. Desculpe, mas o dogmático é você. <br /><br />AbraçoAntonio Cicerohttps://www.blogger.com/profile/16263107813619900521noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-23013299143730563362009-05-04T16:58:00.000-03:002009-05-04T16:58:00.000-03:00Caro Antonio Cícero
Pois eu penso justo o oposto:...Caro Antonio Cícero<br /><br />Pois eu penso justo o oposto: adianta sim discutir com nazistas e fundamentalistas religiosos, e é o que devemos fazer, sempre. O que não adianta é apenas chamá-los de irracionais, e achar que isto encerra a discussão.<br /><br />E penso também, como um bom cético, que todo tipo de posição filosófica está sujeita a tropeços. É precisamente por este motivo que, por mais que eu entenda seus argumentos, saio desta nossa conversa com a impressão de que você defende o falibilismo de uma forma, digamos, dogmática. Dizer que tudo pode falhar, exceto o falibilismo, é uma contradição performativa. <br /><br />Abraço,<br /><br />AntonioUnknownhttps://www.blogger.com/profile/06395959331953463670noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-76579505508654664612009-05-04T01:13:00.000-03:002009-05-04T01:13:00.000-03:00Antonio,
É verdade que os nazistas dificilmente s...Antonio,<br /><br />É verdade que os nazistas dificilmente seriam convencidos por argumentos. O mesmo se pode dizer dos fundamentalistas religiosos. Isso significa apenas que eles são irracionalistas. Não adianta discutir com eles. <br /><br />O irracionalismo, contudo, só é aparentemente mais forte do que a razão. A longo prazo, ele perde a parada. Por que? Porque a razão, que se manifesta em primeiro lugar como crítica, não é uma construção, como as ideologias. Por isso, ela é indestrutível, ao contrário dessas construções. Ela é antes destrutiva, como o vento que derruba os castelos de cartas das ideologias e religiões. E os castelos de cartas tendem a cair, mas o vento fica. Sempre há uma nostalgia de ilusões. O mundo aberto parece desolado aos fracos de espírito. Mas, a longo prazo, as ilusões perdem o encanto. <br /><br />Rorty é muito simpático mas, infelizmente, o antifundacionismo dele, como todo antifundacionismo, está sujeito a tropeços semelhantes aos de Foucault, de que falo no meu artigo mais recente. O que ele não percebeu – e é também o problema dos diversos positivismos – é que o esgotamento do fundacionismo positivo, baseado em Deus, na natureza humana etc. – não significa a impossibilidade de toda fundamentação. O ceticismo mais radical, a crítica mais radical acaba constituindo, ela mesma, o fundamento necessário: um fundamento negativo, ao contrário daqueles que caíram. Em outras palavras, a simples negação do fundamento ainda não é suficiente e acaba por se autocontradizer, como mostro no exemplo de Foucault. Mais radical é o fundamento absolutamente negativo. <br /><br />No momento, estou sem tempo para entrar nas questões que você menciona no item (4). Espero estar mais livre dentro de alguns dias.<br /><br />Abraço.Antonio Cicerohttps://www.blogger.com/profile/16263107813619900521noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-62286806352622886712009-05-04T00:17:00.000-03:002009-05-04T00:17:00.000-03:00Meu caro Antonio Cícero,
1) Acho que entendi seu ...Meu caro Antonio Cícero,<br /><br />1) Acho que entendi seu ponto sobre o falibilismo, e agradeço o esclarecimento. Minha dificuldade estava em reconhecer a tautologia do argumento que sustenta o falibilismo.<br /><br />2) Creio que é desnecessário você me lembrar de que filósofos podem sim influenciar o grande público, e de que a “absorção popular” não serve de critério de julgamento para a obra de um filósofo. Não era este o meu ponto, quando escrevi o último comentário – releia com atenção e você o perceberá. Aliás, minha esperança é que, com o tempo, um filósofo como o Rorty seja cada vez mais lido, e suas idéias, difundidas. Ao contrário de você, acredito que isto seria algo positivo, benéfico.<br /><br />3) Quando você afirma que “Em filosofia, não é o ‘impacto’ do argumento no grande público que conta”, tenho a sensação de que estamos a discutir coisas distintas. Eu não estou (ou estive) apenas debatendo a questão de como refutar o nazismo “em filosofia”; se fosse este o caso, seu argumento seria suficiente. Inclusive seria ótimo se as coisas se passassem desta maneira. Já imaginou se, para derrotar o nazismo, tudo o que tivéssemos que fazer fosse escalar alguns filósofos falibilistas experientes para debater a portas fechadas com filósofos nazistas? Aí, finda a reunião, os nazistas sairiam cabisbaixos, porque derrotados pelo argumento de sua própria irracionalidade – assumindo, é claro, que não houvesse um filósofo nazista suficientemente cínico na sala a ponto de dizer “ok, reconheço que talvez a raça ariana possa não ser superior e que os judeus não sejam afinal a escória da espécie; mas, veja, ainda assim estou quase convicto de que estou certo em acreditar nisso” –, e, de volta ao quartel general da Águia na Montanha, explicariam ao seu bigodudo líder: “Chefe, perdemos. Os argumentos deles foram superiores ao nossos. Achamos melhor o senhor anunciar eleições para o mês que vem”. <br /><br />4) Quanto à questão mais complexa sobre a razão, seria uma prazer acompanhar sua exposição (assim como também sua refutação da existência de Deus: estou curioso).<br /><br />Um abraço,<br /><br />AntonioUnknownhttps://www.blogger.com/profile/06395959331953463670noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-2261847821719991052009-05-03T22:36:00.000-03:002009-05-03T22:36:00.000-03:00Caro Antonio,
Que o nazista seja racional no seu ...Caro Antonio,<br /><br />Que o nazista seja racional no seu uso de dinheiro não tem a menor importância para a discussão. Onde ele não pode deixar de ser racional é na discussão. Quando deixa de ser racional na discussão, ele já a perdeu. Um "argumento irracional" não é um argumento.<br /><br />Em filosofia, não é o “impacto” do argumento no grande público que conta. Esse impacto, aliás, não pode ser medido desse modo. Kant jamais teve influência no grande público e, no entanto, o mundo em que o grande público do mundo moderno vive foi imensamente influenciado pelo pensamento do autor da Crítica da razão pura. Indiretamente e em última instância, a razão sempre ganha. E ganha precisamente porque, em última análise, só ela é realmente pública. O irracional, como a religião, é sempre, no fundo, privado, e a razão demonstra isso. A razão consiste na demonstração da falta de consistência ou fundamento de um argumento determinado. <br /><br />Penso já ter explicado por que a afirmação de que toda tese é contingente ou relativa não é uma tese. Uma tese afirma alguma coisa em oposição a outra coisa. Se ela não afirmasse alguma coisa determinada, não seria uma tese. Ora, uma coisa determinada é uma coisa que pode consistentemente ser negada. Ou seja: uma tese é uma proposição que pode consistentemente ser negada. Exatamente por isso é que ela pode ser objeto de discussão, com uma pessoa defendendo a verdade e outra pessoa, a falsidade dessa tese. <br /><br />Uma tese que não pudesse consistentemente ser negada seria uma contradição em termos: isto é, não seria uma tese. Já a afirmação de que uma tese pode consistentemente ser negada não é uma tese, pois não pode consistentemente ser negada. Isto é, a negação dela resultaria contraditória. Seria como dizer: “uma proposição que pode consistentemente ser negada não pode consistentemente ser negada”. Por isso, a proposição de que uma tese é contingente é uma proposição necessária, e não uma tese.<br /><br />A razão não é uma entidade descolada. Ela só existe na primeira pessoa e consiste, em primeiro lugar, na negação ou crítica. Mas acho melhor não discutir este ponto, que é mais complexo, antes de ficar claro o primeiro, sobre o qual sugiro que você reflita.<br /><br />Abraço.Antonio Cicerohttps://www.blogger.com/profile/16263107813619900521noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-24412060391560999332009-05-03T21:10:00.000-03:002009-05-03T21:10:00.000-03:00Bom, vamos lá:
Concordo que, logicamente, você te...Bom, vamos lá:<br /><br />Concordo que, logicamente, você tem razão em dizer que o nazismo é irracional. Mas isso coloca um problema: o uso do conceito de “racional” e “irracional”. Nazistas, como sabemos, não rasgam dinheiro, ou andam pelas ruas rastejando e babando, emitindo grunhidos ininteligíveis. São pessoas como nós: são capazes de dar sentido às suas ações, tomam suas atitudes com vistas a determinados fins etc. <br /><br />Perdoe minha insistência, mas não vejo como se possa refutar o nazismo apenas dizendo-o mais “irracional” que a democracia. Seria o mesmo que tentar derrotar ou refutar as religiões: também elas são por definição dogmáticas, ou irracionais, no seu dizer. Alguns intelectuais talvez pudessem ficar impressionados com o seu argumento lógico, mas se fosse o caso real de um debate aberto e público entre nazistas e democratas liberais, bem, desconfio que ele não teria impacto algum. Nos jornais, nos cafés, nas mesas de bar, as pessoas perguntariam pelas práticas nazistas, pela vida dentro de um regime totalitário, pela liberdade, pelo respeito aos direitos, pelas minorias, pela crueldade, violência e assim por diante. Portanto, se o que interessa é derrotar o nazista, e não meramente provar nossa perspicácia argumentativa, teríamos necessariamente que discutir tais questões, tais práticas. A batalha seria ganha, ou perdida, nas descrições que nós faríamos deles, e vice-versa. <br /><br />Aqui vai uma confissão desavergonhada: nosso debate está sendo uma ótima oportunidade para eu aprender sobre o falibilismo. Não li Peirce, por exemplo; de Popper, conheço pouco (mas o que gosto mesmo é da crítica que Giddens lhe faz). Ainda assim, arrisco um palpite: se toda tese é contingente – ou relativa – isso não inclui a própria tese de que toda tese é contingente (relativa)? Ou, colocando de outro modo: de que ponto de vista absoluto alguém emite o juízo segundo o qual todos os juízos são relativos? <br /><br />No item 4 de seu último comentário, você fala da Razão como se ela fosse uma entidade descolada do homem, que vagasse por aí, solta pelo ar. A razão só se efetua na linguagem e pela linguagem – não há razão sem pensamento, e não há pensamento fora da linguagem. O que nos levaria a uma outra discussão: a de que a linguagem não é uma estrutura fixa, firme e inconcussa...<br /><br />E sim – eu e você estamos falando do fundamento da sociedade aberta. A meu ver, noções como a igualdade fundamental entre os homens, ou a defesa das liberdades individuais, não são meras justificativas históricas dadas para a sociedade aberta. São, com efeito, partes constitutivas do arcabouço que a fundamenta. Nossa diferença está no fato de que você coloca o falibilismo no centro do fundamento, e eu não. Aliás, não estou muito seguro de que haja algo como um “centro de fundamento”.<br /> <br />Abraço,<br /><br />AntonioUnknownhttps://www.blogger.com/profile/06395959331953463670noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-59905716961827186942009-05-03T17:25:00.000-03:002009-05-03T17:25:00.000-03:00Antonio,
desculpe. Na minha cabeça, eu tinha post...Antonio,<br /><br />desculpe. Na minha cabeça, eu tinha postado o seu comentário. Agora já está.<br /><br />Abraço,<br />ACiceroAntonio Cicerohttps://www.blogger.com/profile/16263107813619900521noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-7490512661582788952009-05-03T15:59:00.000-03:002009-05-03T15:59:00.000-03:00Cícero, caro
Respondo seu comentário depois -- ag...Cícero, caro<br /><br />Respondo seu comentário depois -- agora, vou ver o meu mengão jogar.<br /><br />Só uma coisa: o meu último comentário não siu publicado aqui. Chamo a atenção porque outros leitores podem eventualmente acompanhar o nosso debate, e ficarão sem entender o porque desta sua última resposta a mim.<br /><br />Abraço,Unknownhttps://www.blogger.com/profile/06395959331953463670noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-46263139471603246272009-05-03T13:27:00.000-03:002009-05-03T13:27:00.000-03:00Caro Antonio,
1) A razão nos mostra que toda tese...Caro Antonio,<br /><br />1) A razão nos mostra que toda tese é logicamente contingente porque só as tautologias são logicamente necessárias. As tautologias não são teses. Uma tautologia é por exemplo ‘se p, então p’. Uma tese é, por exemplo, ‘p’. Pois bem, ‘p’ sempre pode ser verdadeira, mas também sempre pode ser falsa. Se alguém afirma ‘p’, outra pessoa sempre pode afirmar ‘-p’, isto é, “não é verdade que p”. Uma tese sempre admite uma contradição. Faz parte da definição de tese que ela admite uma antítese. Tanto uma tese quanto a sua antítese são sempre contingentes. É irracional negar isso. Não é ilógico que você acredite que sua tese seja verdadeira ou que a defenda com unhas e dentes, mas afirmar que a sua tese não pode em princípio ser falsa é violar a lógica. Posso debater racionalmente sobre a existência de Deus exatamente porque a tese de que Ele existe é contingente. Por outro lado, a tese tautológica de que “Se Deus existe, então Deus existe” não pode ser debatida por que é tautológica. De novo: isto, que estou dizendo agora, não é uma tese minha, mas uma necessidade lógica. Não é concebível uma não-tautologia que não possa ser negada. En passant: não concordo com você quando afirma que a tese da existência de Deus não possa ser demonstrada nem refutada. Ao contrário, penso que ela é falsa e pode ser refutada. <br /><br />2) O falibilismo é absoluto pelas razões que explico no item anterior. Ele consiste exatamente no reconhecimento da verdade (tauto)lógica de que toda tese é contingente. Ele mesmo não é refutável porque não consiste numa tese, mas numa tautologia não-trivial.<br /><br />3) O nacional-socialismo é recusável in limine pois, exatamente na medida em que recusa o falibilismo, ele é irracional. Não é preciso mais que saber disso para refutá-lo. Já a democracia liberal é racional, pois se baseia exatamente no reconhecimento da falibilidade do homem. <br /><br />4) Não é “o homem” que está em jogo aqui, mas a própria razão. E a razão significa em primeiro lugar crítica e negação.<br /><br />5) Estamos aqui falando do fundamento da sociedade aberta, não das justificativas históricas que podem ter sido dadas para ela. É claro que a própria noção de falibilismo data do século XX. Isso não quer dizer que não seja ela que vai até o fundamento da sociedade aberta. De todo modo, a própria idéia de direitos humanos não seria concebível sem o falibilismo que Descartes, avant la lettre, descobriu.<br /><br />AbraçoAntonio Cicerohttps://www.blogger.com/profile/16263107813619900521noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-5108152845295243562009-05-03T12:09:00.000-03:002009-05-03T12:09:00.000-03:00Caro Antonio Cícero
Sim, é claro que conheço o li...Caro Antonio Cícero<br /><br />Sim, é claro que conheço o livro que você organizou junto com o Waly Salomão! Aliás, foi através dele que tomei contato com o Rorty pela primeira vez. Foi lendo aquele artigo, no início do meu mestrado, que comecei a me interessar pelas idéias malucas do Rorty (e veja só, hoje estou começando a escrever uma tese de doutorado sobre o aproveitamento da filosofia rortyana para as ciências sociais...) Sou muito grato a você, saiba disso – por este primeiro contato com o Rorty e também pela sua generosidade em debater comigo aqui. <br /><br />Concordo que Rorty não seja totalmente cético, até pela posição dele em favor do holismo de Davidson, como comentei antes. Mas concordo também com a leitura que Michael Williams faz da obra de Rorty – e ele nota muitos pontos muito semelhantes, senão iguais, às idéias de Hume. (O excelente artigo de Williams pode ser encontrado na edição sobre Rorty da série de livros “Contemporary Philosophy in Focus”, editado por Charles Guignon e David R. Hiley.)<br /><br />Sobre a questão do filósofo nazista, eu começaria dizendo que nós colocamos as coisas de modos diferentes: eu falei em “refutar” o filósofo nazista, você falou em “derrotá-lo”. São duas coisas distintas. Mas vou acompanhar sua argumentação, e tecer meus comentários em cima dela.<br /><br />Se bem entendi, você está dizendo que um filósofo liberal falibilista derrotaria um filósofo nazista acusando-o de ser um dogmático, e, portanto, um inimigo da razão. Mas o filósofo nazista poderia responder (muito sacanamente) dizendo:<br /><br />1) “Você afirma que ‘a própria razão nos mostra que toda tese (...) é contingente’. Ora, não vejo como a razão necessariamente nos mostre uma coisa dessas. A razão não barra a posição dogmática, não é incompatível com ela. Você poderia até dizer que o dogmatismo é a razão que trai a si mesma – mas não que ele é uma forma de irracionalismo. O reconhecimento da falibilidade pelas partes envolvidas num debate não é uma condição de possibilidade para que ele se dê; é, talvez, sua situação ideal. Portanto, eu não estou excluído do debate racional apenas porque acredito que minhas teses não podem em princípio ser falhas. Podemos, por exemplo, debater sobre Deus – cuja existência não pode ser nem demonstrada nem refutada –, e fazer isso de forma absolutamente racional.” <br /><br />2) “Se você quiser dizer que, ao não reconhecer a falibilidade de minhas convicções eu estou automaticamente me colocando na posição de ‘inimigo da razão’, tudo bem – desde, é claro, que a gente discuta este vínculo entre “falibilidade” e “razão” ao qual você se refere. Se não, vejamos. O falibilismo que você diz defender, e no qual se apóia para fazer suas afirmações, não pode ser absoluto, sob pena de cair no mesmo tipo de contradição que o relativismo. Ou seja, nem tudo poder ser falível; deve haver, necessariamente, alguma certeza (ou algumas). No que se refere ao nosso debate aqui, caberia perguntar: você possui alguma certeza de que a democracia liberal é intrinsecamente melhor do que o nacional-socialismo? Se possui, qual é o critério que você utiliza para justificar que esta certeza é afinal uma certeza? Pois se você tiver um critério último, absoluto e inquestionável, de justificação para afirmar que a sua democracia é intrinsecamente melhor do que o meu nacional-socialismo, estará caindo em contradição, posto que negando o falibilismo que diz praticar; mas se você não tiver este critério último ou absoluto, isto é, se tiver apenas critérios relativos, então por que eu ou qualquer outra pessoa deveria acreditar que eles são necessariamente superiores aos critérios de que disponho?”<br /><br />Enfim, meu ponto é o seguinte: apesar de você ter razão ao dizer que o nazismo é menos racional do que o liberalismo democrático, não vejo muita utilidade nisso na hora do debate com um filósofo nazista. Não creio que a discussão possa ser vencida por aí. Penso, ao contrário, que seria mais eficiente ressaltar as conquistas reais, os progressos práticos feitos sob o sistema liberal-democrático – e esfregá-los na cara do nazistão dizendo: “você não pode falar o mesmo de si e do sistema que defende”. Claro, ele começará a enumerar as vantagens dele, ou aquilo que ele julga serem progressos e conquistas etc. Mas a verdade é que nós teremos uma história mais instrutiva para contar. <br /><br />Pedir mais que isso é pedir uma instância de julgamento, um tribunal que seja superior ao homem, que o transcenda de alguma forma. Mas não há tal tribunal. O homem não pode ser julgado por nada além dele próprio – e a antropologia nos ensinou que não existe um Homem com H maiúsculo, e sim homens. Aliás, desconfio de que, se houvesse mesmo essa coisa chamada Homem, e se ele pudesse de fato recorrer a um Tribunal Universal da Razão Absoluta, não estaríamos até hoje vivendo nesta zorra que está aí.<br /><br />Por fim, um comentário sobre o seu elogio do falibilismo (já tinha lido seus outros textos antes de você indicá-los: o site todo é muito bom). Concordo que a razão, ao questionar a si mesma, não pode deixar de se afirmar. E concordo também que o falibilismo foi (e é) importante na construção do mundo moderno. Mas você vai além, e diz que “se as sociedades liberais ou abertas têm um pressuposto central, trata-se de algo racional e oposto à fé: trata-se, isto é, do falibilismo.” É aí que discordo de você.<br /><br />Não creio que o falibilismo seja um pressuposto central das sociedades liberais. Ele é importante, de fato – mas não central. Creio que não é necessário entrar em detalhes sobre o que a noção de centro evoca – “fundamento”, “núcleo da estrutura”, “ponto inaugural de irradiação” e assim por diante. Vou direto ao que interessa.<br /><br />Considere, por exemplo, esta passagem da Declaração de Independência dos Estados Unidos, redigida por Thomas Jefferson em 1776:<br /><br />“Consideramos auto-evidentes as seguintes verdades: todos os homens foram criados iguais, e dotados por seu criador de determinados direitos inalienáveis, dentre os quais se incluem a vida, a liberdade e a busca da felicidade, e é para assegurar estes direitos que os governos foram instituídos”.<br /><br />Jefferson considerava evidente por si mesma a verdade da igualdade natural dos homens, e a verdade dos direitos à vida, liberdade e busca por felicidade. Se são verdades evidentes por si mesmas, é porque elas fundam a si próprias. Logo, não era necessário nem demonstrar racionalmente a prova de sua evidência, nem evocar qualquer outra crença para justificá-las. O ponto que quero sublinhar aqui é que, no ato de fundação do sistema político que encarnaria, melhor do que qualquer outro, os ideais e valores mais caros à modernidade, não é o falibilismo que dá o tom. Ao contrário, é o dogmatismo. Jefferson não era um gênio excêntrico isolado (embora fosse um tipo caladão, de poucas palavras); se escreveu o que escreveu, e do modo como escreveu, era porque traduzia em larga medida um consenso entre seus pares. E não há absolutamente nada de falibilista neste consenso...<br /><br />Um abraço,<br /><br />Antonio<br /><br />ps - vou ler o artigo sobre Foucault agora.Unknownhttps://www.blogger.com/profile/06395959331953463670noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-30264329471446567522009-05-03T11:54:00.000-03:002009-05-03T11:54:00.000-03:00Caro Antonio,
O artigo que publiquei hoje, chamad...Caro Antonio,<br /><br />O artigo que publiquei hoje, chamado "Foucault e o fundacionismo", tem a ver com a nossa discussão.<br /><br />AbraçoAntonio Cicerohttps://www.blogger.com/profile/16263107813619900521noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-3975143508235399022009-05-03T11:52:00.000-03:002009-05-03T11:52:00.000-03:00Caro Antonio,
De fato, o antifundacionismo de Ror...Caro Antonio,<br /><br />De fato, o antifundacionismo de Rorty é, para mim, uma espécie de relativismo. Rorty está certo de não se considerar cético. O que ele pensa não é ceticismo, pois os céticos, ao contrário dele, duvidam de que seja possível conhecer a verdade. Rorty não duvida disso. Ele apenas acha que a verdade não pode ser fundamentada de modo universalmente aceitável. E pensa que isso não é necessário. <br /><br />(Uma curiosidade: você sabia que fui eu que trouxe Rorty ao Brasil, em 1994? Ele era simpaticíssimo. Waly Salomão e eu organizávamos então o “Banco Nacional de Idéias”, para o qual concebemos um ciclo de conferências chamado “O relativismo enquanto visão do mundo”. Editamos um livro (CICERO, A. e SALOMÃO, W. O relativismo enquanto visão do mundo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1994), que contém as palestras desse ciclo, inclusive a do Rorty, chamada “Relativismo: encontrar e fabricar”. Nessa época, tive o privilégio de conversar algumas vezes com ele).<br /><br />Na verdade, cético sou eu. Mas o meu ceticismo se chama “falibilismo”. Eu jamais invocaria a natureza humana para discutir com o filósofo nazista, por razões que explico no artigo "A evolução e a natureza", de 7/9/2008, que você pode ler neste blog. <br /><br />Mas sustento que o falibilismo derrota racionalmente o “filósofo nazista”. Veja bem: não pode haver discussão que não seja racional, isto é, que não pressuponha uma razão comum entre os interlocutores. Aquele que não reconheça essa razão exclui a si mesmo da discussão; e exclui as suas teses da racionalidade. Ora, é a própria razão que nos mostra que toda tese, isto é, toda posição particular, determinada, definida é contingente. Tanto pode, portanto, ser verdadeira quanto pode ser falsa. Assim, a priori, como condição de possibilidade da discussão, cada interlocutor precisa concordar que, em princípio, a sua tese – seja qual for – pode ser falsa. Isso, porém, já é uma verdade absoluta. É, portanto, uma verdade absoluta que todas as “verdades” positivas são contingentes. Por si só, o reconhecimento dessa verdade absoluta já destrói as pretensões às verdades absolutas – e positivas – do nazista. O artigo que você critica se baseia nessa verdade absoluta. É dela que, em última análise, se seguem as instituições liberais que garantem uma sociedade aberta, os direitos humanos, os procedimentos jurídicos modernos, a garantia da autonomia da ciência e da arte etc. <br /><br />Mas penso que seria redundante repetir aqui o que eu já disse em artigos que se encontram neste blog. Recomendo que você leia, além do que está comentando, os seguintes: “O falibilismo versus o relativismo” (13.1.08) e “A questão da história”. <br /><br />AbraçoAntonio Cicerohttps://www.blogger.com/profile/16263107813619900521noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-27201298665208280042009-04-30T14:26:00.000-03:002009-04-30T14:26:00.000-03:00Aguardo ansiosamente!
Querido Cicero, esses debat...Aguardo ansiosamente!<br /><br />Querido Cicero, esses debates aqui no teu blog, vários deles, dariam um belo livro. Já pensaste nisso?<br /><br />O conteúdo é riquíssimo e as discussões fazem a gente ir mais fundo do que em textos acadêmicos domesticados pela ABNT.<br /><br />Forte abraço,<br />Héber SalesPoesia Hojehttps://www.blogger.com/profile/02417913799253226855noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-56220734764291075512009-04-29T21:41:00.000-03:002009-04-29T21:41:00.000-03:00Caro Antonio,
Desculpe a demora a lhe responder a...Caro Antonio,<br /><br />Desculpe a demora a lhe responder alguma coisa. É que estou sem absolutamente tempo nenhum. Assim que terminar alguns trabalhos pendentes, no final da semana, voltarei à nossa discussão. <br /><br />AbraçoAntonio Cicerohttps://www.blogger.com/profile/16263107813619900521noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-80356660806883787702009-04-28T19:19:00.000-03:002009-04-28T19:19:00.000-03:00Obrigado pela resposta, Antonio Cicero. Tenho algu...Obrigado pela resposta, Antonio Cicero. Tenho algumas observações a fazer sobre o que você disse.<br /><br />Parte de nosso desacordo está no que entendemos por “relativismo”, ou no que seria necessário para classificar um pensador como “relativista”. Creio que pode-se entender o relativismo de duas formas que, apesar de semelhantes ou “próximas”, são bastante distintas. <br /><br />Relativismo (1): É o que você aponta em relação ao antifundacionalismo de Rorty, isto é, o reconhecimento da relatividade da justificação para as crenças; se não há um critério de último de justificação que garanta o estatuto de verdade a alguma crença em particular, então a Verdade será sempre relativa, contingente, produto de configurações particulares de tempo, lugar e acaso. A passagem de Rorty que você citou é um exemplo deste raciocínio.<br /><br />Relativismo (2): É aquilo que chamei de “o passo seguinte”, que Rorty nunca deu: a aceitação da ideia de que, uma vez que não dispomos de um critério último de justificação, todas as crenças são igualmente válidas. Ou, para dar um exemplo claro: “já que não temos uma maneira final, um argumento absoluto ao qual recorrer para decidir entre democracia liberal e nazismo, então estas duas formas de vida política se equivalem”.<br /><br />De fato, se relativismo é (1), então você tem razão em dizer que Rorty é um pensador relativista. Mas creio que esta maneira de colocar o relativismo é demasiadamente ampla, genérica, e portanto não muito apropriada. Pois o cerne da questão do relativismo (1) é o problema do critério – um problema que é central ao ceticismo. Ou seja, se você definir o relativismo da maneira (1), será obrigado a incluir sob a sua rubrica os pensadores da tradição cética. Os céticos sustentam a impossibilidade de um critério último de justificação – mas isto não faz deles pensadores relativistas. Para um cético, o que importa é “continuar investigando”, que é exatamente o que importa para Rorty. Rorty está o tempo todo nos exortando a abandonar a pretensão de definir a Verdade, ou de alcançá-la, e nos incentivando a tentar inventar vocabulários que permitam viver com menos desigualdade, crueldade e sofrimento. (É irônico, contudo, que Rorty seja hostil ao ceticismo, e se declare um discípulo do holismo de Davidson. Mas isto é outro papo.)<br /><br />No final de suas observações sobre o meu comentário, você pergunta: o que faremos se alguém evocar argumentos filosóficos para justificar uma posição absolutamente contrária a tudo aquilo que acreditamos como sendo bom e justo? Em outras palavras, se abrirmos mão de um critério que nos permita afirmar a nossa Verdade (ou o virtuosismo intrínseco dela), como refutaríamos um filósofo nazista experiente? Minha resposta, seguindo Rorty, é: não refutaríamos. É impossível fazê-lo. O filósofo nazista e eu ficaríamos longas horas argumentando em círculos. Aliás, você ou qualquer filósofo realista também não conseguiria refutá-lo definitivamente. <br /><br />Talvez o melhor candidato a critério absoluto para uma argumentação do tipo que se exige contra um filósofo nazista experiente seja o de Natureza Humana. Ou seja, ao fim e ao cabo, você poderia evocar a Natureza Humana como fundamento para a sua concepção de que a democracia liberal é melhor do que o nazismo. Mas se o filósofo nazista tiver lido Clifford Geertz, você estará em apuros. Entre elogios à penetrante atividade intelectual do antropólogo americano, ele lembraria a você do fato de que todas as sociedades, em todas as épocas ou lugares, apresentam alguma forma de moral, religião ou estrutura familiar – mas estas formas de construções morais, práticas religiosas e estruturas familiares são tão diferentes entre si, que só seria possível reuni-las sob um mesmo conceito, de vigência universal, valendo-se de uma generalização tão larga que o próprio conceito perderia rigor científico, porque demasiadamente abstrato. E finalizaria, ainda com Geertz: “a noção de que a essência do que significa ser humano é revelada mais claramente nesses aspectos da cultura humana que são universais do que naqueles que são típicos deste ou daquele povo, é um preconceito que não somos obrigados a compartilhar”.<br /><br />Creio que o que está por trás de sua pergunta é a sensação de que nós, o Ocidente liberal democrático, inevitavelmente perderíamos força de persuasão ou capacidade argumentativa caso abríssemos mão de um fundamento último para as concepções morais que nos são mais caras. Devo reconhecer que este é um medo bastante plausível, mas que pode ser superado. Apenas acadêmicos muito intelectualizados se preocupam com coisas como "fundamentos universais". De modo geral, as pessoas se contentam em defender os direitos humanos porque, afinal, "é a coisa certa a se fazer", porque elas foram socializadas numa cultura que lhes inculcou isso. Este vocabulário, que postula a igualdade fundamental dos homens perante a lei, já foi naturalizado no Ocidente (o que não significa que ele não possa ser aperfeiçoado). Caso a academia inteira venha algum dia a concordar com Rorty – e chegar à conclusão de que não há critérios de validade independente de contexto capazes de fundamentar nossa concepção de direitos humanos –, isto não teria impacto algum nas leis e nos costumes. A vida continuaria a transcorrer como sempre: conservadores querendo conservar, progressistas querendo reformas, revolucionários querendo revoluções. <br /><br />A defesa dos direitos humanos por Rorty baseia-se não em fundamentos absolutos, mas em seus méritos relativos: como são instrumentos adequados para evitar a crueldade e a humilhação, devemos elogiá-los, valorizá-los. É também o que pensa o velho Joseph Schumpeter: “Reconhecer a validade relativa das próprias convicções, mas ainda assim defendê-las resolutamente, é o que distingue o homem civilizado do bárbaro”. Comentando esta passagem, Isaiah Berlin certa vez disse que “pedir mais do que isso talvez seja uma necessidade metafísica profunda e incurável, mas permitir que isso determine nossa prática é sintoma de uma imaturidade moral e política igualmente profunda, e mais perigosa”.<br /><br />Schumpeter e Berlin, parece-me, não são considerados relativistas.<br /><br />Grande abraço,<br /><br />Antonio Engelke<br /><br />ps – sobre sua réplica ao último ponto de meu comentário... Touché! Mas perceba: a referência ao pragmatismo de Hilary Putnam não foi sem razão. Estou de acordo com Putnam quando ele diz que “elementos do que chamamos de ‘linguagem’ ou ‘mente’ penetram tão profundamente no que chamamos ‘realidade’ que o próprio projeto de representar a nós mesmos como mapeadores de algo que ‘não depende da linguagem’ está, desde o início, fatalmente comprometido.” Meu objetivo, ao trazer Putnam para o debate, era o de lembrar a você que o Realismo é, como o Relativismo, uma “tentativa impossível de enxergar o mundo a partir de Lugar Nenhum”.Unknownhttps://www.blogger.com/profile/06395959331953463670noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-67657498382375814432009-04-28T00:26:00.000-03:002009-04-28T00:26:00.000-03:00Caro Antonio,
Seja benvindo. Suas observações são...Caro Antonio,<br /><br />Seja benvindo. Suas observações são interessantes. Vou comentar algumas delas.<br /><br />1) Você diz:<br /><br />“Rorty jamais afirmou que a verdade é relativa, ou que não existe verdade”.<br /><br />No texto também digo que os pensadores que cito jamais quiseram ser rotulados como relativistas. <br /><br />Mas Rorty afirma (em “Solidarity or objectivity?”) que “‘relativismo’ é um epíteto tradicional aplicado ao pragmatismo pelos realistas. Três diferentes pontos de vista são comumente assim designados”. E o terceiro ponto de vista que ele cita é o que chama de “pragmático” ou “etnocêntrico”, segundo o qual “nada há a dizer sobre a verdade ou a racionalidade fora das descrições dos procedimentos familiares de justificação que dada sociedade – a nossa – usa numa ou noutra área de investigação”. Ele não se considera relativista porque acha que só é propriamente relativista quem ache ou que qualquer crença equivalha a qualquer outra, ou que o termo “verdadeiro” é equívoco, tendo tantos significados quanto procedimentos de verificação.<br />Entretanto, <br /><br />a) Ele reconhece que sua posição é um tradicionalmente, na considerada relativista pelos realistas. Ocorre que o próprio senso comum é realista. Rorty reconhece, portanto, que, segundo o uso tradicional da palavra, ele é relativista. Só isso já me daria o direito de chamá-lo de “relativista”, a partir de uma perspectiva wittgensteiniana.<br /><br />b) Ao chamar o seu ponto de vista de “pragmático” ou “etnocêntrico”, ele incorre em ambiguidade, pois reconhece que outras sociedades podem ter outros procedimentos de justificação. Se ele é etnocêntrico, é porque acha que os procedimentos de justificação da sociedade dele é que dizem algo sobre a verdade, mas não os demais, se divergirem dos dela. Entretanto, ao falar de “dada sociedade – a nossa”, ele não está singularizando a sua sociedade particular, como estaria se tivesse dito, por exemplo, “nada há a dizer sobre a verdade ou a racionalidade fora das descrições dos procedimentos familiares de justificação que os Estados Unidos da América usam numa ou noutra área de investigação”. A expressão “dada sociedade – a nossa” pode ser usada por qualquer um, de qualquer sociedade: trata-se, na verdade, de um universal. Ao usá-la, ele está portanto reconhecendo que, se pertencesse a outra sociedade, acharia que os procedimentos de justificação dessa outra sociedade, e não os daquela a que pertence, dizem algo sobre a verdade. Isso é uma forma de relativismo cultural.<br /><br />2) Você diz:<br /><br />“Rorty, por exemplo, afirma enfaticamente que a democracia liberal é melhor do que o comunismo. E o que critério que ele usa para justificar esta afirmação -- o fato de que a democracia promove mais justiça social e liberdade individual, e menos crueldade e humilhação do que o comunismo”.<br />E se alguém defender um sistema de castas, dizendo (como Nietzsche, aliás, praticamente o faz em “O Anticristo”) que melhor do que justiça social é a hierarquia social; que melhor do que liberdade individual é a disciplina; e que o que os escravos sentem como crueldade e humilhação é apenas a manifestação da afirmação da vida e da vontade de poder da casta dos senhores?<br /><br />Por último, também acho o relativismo indefensável, mas não pela razão que você alega. Essa razão, aliás, me parece inteiramente relativista. <br /><br />AbraçoAntonio Cicerohttps://www.blogger.com/profile/16263107813619900521noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-81303988308216129872009-04-27T16:51:00.000-03:002009-04-27T16:51:00.000-03:00Caro Antonio Cícero
Cheguei aqui via Pandorama. C...Caro Antonio Cícero<br /><br />Cheguei aqui via Pandorama. Creio, portanto, que chego atrasado neste debate sobre relativismo.<br /><br />Ainda assim, gostaria de fazer uma observação.<br /><br />No início de seu texto, você afirma que Foucault, Deleuze, Derrida e Rorty são relativistas. Isto me parece um equívoco, ao menos parcial. Confesso que meu conhecimento da filosofia de Deleuze e Derrida é (ainda) bastante rudimentar. Mas Rorty eu conheço bem. É sobre ele que gostaria de lhe falar.<br /><br />Rorty jamais afirmou que a verdade é relativa, ou que não existe verdade. O que ele afirma é que a noção de "verdade como correspondência com a realidade" é uma noção que traz mais problemas do que soluções, problemas para os quais não encontramos -- e nunca encontraremos -- uma solução adequada. Não vou entrar nos detalhes técnicos que embasam a posição rortyana -- o ataque de Sellars ao "mito do Dado", a desconstrução Quineana da distinção analítico-sintético, a filosofia do "segundo" Wittgenstein, a relação mente-corpo tal como entendida por Dennett -- porque, bem, este não é o espaço apropriado para isso. <br /><br />O que quero é sublinhar que uma coisa é dizer que não há justificação para uma crença que não seja outra crença (o antifundacionismo algo cético de Rorty); outra, completamente diferente, é dizer que, na falta de um critério último de justificação, todas as crenças são igualmente válidas. Este segundo passo, que é o relativismo, Rorty nunca deu. <br /><br />Rorty, por exemplo, afirma enfaticamente que a democracia liberal é melhor do que o comunismo. E o que critério que ele usa para justificar esta afirmação -- o fato de que a democracia promove mais justiça social e liberdade individual, e menos crueldade e humilhação do que o comunismo --, ainda que não esteja fundado em algo transcendente (como a Natureza, ou a Verdade), é no entanto perfeitamente defensável, e operacional.<br /><br />Um último comentário. O relativismo é uma posição que se pode defender -- mas não uma posição que alguém possa de fato ocupar. Pois o relativismo absoluto pressupõe aqui que Putnam chama de o ponto-de-vista de Deus: o movimento de projetar-se para fora de nossa própria consciência, de modo a escapar das contingências de nossos jogos de linguagem e crenças. Isto, claro está, é uma impossibilidade.<br /><br />Um abraço,<br /><br />Antonio EngelkeUnknownhttps://www.blogger.com/profile/06395959331953463670noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4784026675001070232.post-1530562559354057732008-01-12T21:14:00.000-02:002008-01-12T21:14:00.000-02:00Caro Osrevni,Não entendo bem você chamar Aristótel...Caro Osrevni,<BR/><BR/>Não entendo bem você chamar Aristóteles e Tarski para apoiar o relativismo. Nem um nem outro era relativista, e Tarski desenvolveu a sua concepção semântica da verdade a partir de Aristóteles. É sem dúvida essa concepção semântica que você acha que está “inserida na estrutura lingüística” do ser humano. E seu relativismo vem de pensar que também que essa estrutura lingüística varia histórica e geograficamente. <BR/><BR/>Não concordo com isso. Em primeiro lugar, se a existência dessas variações justificasse o relativismo, não poderíamos estar aqui a falar, em português, das concepções de Aristóteles ou de Tarski. <BR/><BR/>Em segundo lugar, justamente a concepção semântica da verdade, pelo menos para os autores em questão, nada tem a ver com relativismo. Aristóteles diz, por exemplo, na “Retórica”, que “tanto os homens são por natureza dispostos para a verdade quanto, na maior parte das vezes, atingem a verdade”; e, na “Metafísica”, diz que “é correto que a filosofia seja chamada de ciência da verdade. Pois o fim da ciência teórica é a verdade”. Ora, Tarski diz explicitamente que queria que a sua definição da verdade “fizesse justiça às intuições vinculadas com a concepção aristotélica da verdade, intuições que encontram sua expressão nas conhecidas palavras de Aristóteles: ‘Dizer do que é que não é, ou do que não é que é, é falso, enquanto que dizer do que é que é, ou do que não é que não é, é verdadeiro’”.<BR/><BR/>O fato de que critico o relativismo vulgar não tem nada a ver com platonismo. Ao contrário, acho que é possível criticar o platonismo a partir das posições que defendo (vide o meu ensaio “Proteu”, em “Finalidades sem fim”, mas não a partir do relativismo vulgar (como, aliás, os próprios diálogos de Platão mostram). <BR/><BR/>Reconheço que talvez eu, no artigo que você critica, não tenha deixado as minhas posições suficientemente claras. De qualquer modo, no artigo que saiu hoje na Folha de São Paulo, tento esclarecê-las um pouco. Postarei esse artigo aqui daqui a algumas horas. <BR/><BR/>Obrigado pelos votos de excelente 2008. Que seja excelente para você também.<BR/><BR/>Abraço,<BR/>Antonio CiceroAntonio Cicerohttps://www.blogger.com/profile/16263107813619900521noreply@blogger.com