24.5.12

Luís de Camões: "Amor, co a esperança já perdida"



Amor, co a esperança já perdida

Amor, co a esperança já perdida,
teu soberano templo visitei;
por sinal do naufrágio que passei,
em lugar dos vestidos, pus a vida.

Que queres mais de mim, que destruída
me tens a glória toda que alcancei?
Não cuides de forçar-me, que não sei
tornar a entrar onde não há saída.

Vês aqui alma, vida e esperança,
despojos doces de meu bem passado,
enquanto quis aquela que eu adoro:

nelas podes tomar de mim vingança;
e se inda não estás de mim vingado,
contenta-te co as lágrimas que choro.




CAMÕES, Luís de. Lírica completa II. Sonetos. Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda: 1980.

2 comentários:

Ruy Lozano disse...

"Em lugar dos vestidos, pus a vida."
"Não cuides de forçar-me, que não sei tornar a entrar onde não há saída."

Para escrever versos assim, só um gênio; só Camões.

ANNA disse...

"...MAS TODAS SUAS IRAS SÃO DE AMOR;
TODOS ESTES SEUS MALES SÃO DO BEM,
QUE EU POR TODO OUTRO BEM,NÃO TROCARIA"
Luis de Camões

Amor é loucura dos homens e brinquedo dos deuses.
Abraços,Anna Kaum.